28/05/2020
Apesar da volatilidade alta, maio tem sido de ganhos na bolsa e queda no dólar

Para muitos gestores, o mês de maio foi decisivo no comportamento dos mercados locais, conforme os ativos foram se recuperando gradualmente do tombo sofrido em março, período mais agudo da crise causada pela pandemia.
Apesar da volatilidade vista neste mês, agentes não negam que há um sentimento de alívio. O Ibovespa, por exemplo, exibe ganhos de 8,96% em maio até agora. O recuo do dólar, mais tímido, é de 1,97%.
E o próximo mês promete ser ainda mais relevante, já que alguns estados brasileiros, com destaque para São Paulo, implantarão medidas de flexibilização de isolamento social. O governador João Doria (PSDB-SP) apresentou um plano gradual, que começa a valer a partir da próxima segunda-feira. Para gestores, não há impacto imediato na bolsa, onde os papéis mais ligados ao consumo continuarão se beneficiando diante do aumento previsto no consumo e reabertura já está precificada.
O mais importante, agora, é saber quais os desdobramentos disso com foco em 2021, que promete ser um ano de maior fôlego para os ativos brasileiros.
“O mercado está preocupado agora com a âncora fiscal, isso é o mais importante pensando nos preços que as ações podem atingir em 2021 e 2022. Sabemos que em junho, em maior ou menor medida a economia vai reabrir e isso está precificado, agora podemos adotar uma postura mais construtiva em relação à bolsa”, afirma Gleidson Leite, gestor de renda variável da Western Asset Brasil.
Nesta semana, o Ibovespa acumula ganhos de 6,76%, impulso que, segundo o gestor, já reflete o alívio dos investidores e a “sensação de luz no fim do túnel”, de que existe um projeto para que a economia volte a engrenar.
“Vejo a bolsa com condições de subir no curto prazo, com destaque para as ações mais ligadas ao ciclo doméstico puxando esse movimento e ainda grande participação dos investidores locais. São eles que irão puxar o mercado ainda”, diz.
Por outro lado, ele acredita em um momento mais difícil para papéis de setores considerados mais defensivos e muito demandados no período de aversão ao risco, como aqueles de saneamento e setor elétrico, havendo espaço para um ajuste de preço nos ativos.
Atualmente, a Western Asset está revisando suas projeções para o Ibovespa. Até março, estimava que o índice poderia chegar aos 105 mil pontos nos 12 meses seguintes. Para o dólar, os analistas estimam cotação de R$ 5,15 até o fim do ano, enquanto o PIB deve ter uma retração de 7,1%. A equipe reforça que o câmbio está mais sujeito ao nível de recuperação global e que um movimento mais lento poderia levá-lo a R$ 5,40 nos próximos sete meses.
Carlos Sequeira, chefe de pesquisa de ações para América Latina do BTG Pactual, trabalha com a expectativa de reabertura da economia no mês de junho, retomada parcial das atividades ao longo do terceiro trimestre e retorno aos níveis normais somente no último trimestre do ano. Isso geraria uma retração de 7% no PIB do Brasil, avalia.
“Acho que impacto negativo de fato nos mercados só teria se, em vez de acontecer em junho, essa reabertura viesse no fim do terceiro trimestre, por exemplo. Fora isso, não mexe muito. A verdade é que o mercado olha muito pouco para 2020, o que vemos não reflete o momento atual, mas as expectativas futuras”, diz.
O setor bancário deve ser um termômetro importante para ser acompanha nos próximos meses, diz o especialista, junto ao movimento de recuperação esperado nas ações do ciclo doméstico.
“É importante ter atenção com os bancos, pois eles dependem muito da recuperação econômica e acompanham esse movimento de perto. Não é o setor mais sensível no momento da reabertura, mas tem grande peso no Ibovespa.”
O maior risco enfrentado atualmente pelos mercados é, sem dúvida, uma duração ainda maior da pandemia. “Mas os nossos números já pioraram bastante, acho improvável que a situação piore ainda mais. E o lado positivo é que o mundo traz notícias sobre uma possível vacina, o mercado precifica esse momento melhor”, afirma Sequeira.
Neste aspecto, Gleidson Leite, da Western Asset Brasil, vê um cenário um pouco mais desafiador, ressaltando que o mercado não precificou um retorno ao isolamento caso necessário. “Não está o preço que haja uma reabertura e depois de duas semanas voltemos para o isolamento porque o número de casos cresceu demais. Esse é o nosso risco de curto e médio prazo, aqui e no mundo. Mas, caso tudo corra bem, o mercado até empurra as questões fiscais e política para depois, relevando outros riscos”, explica.
O BTG Pactual projeta uma contração de 24,6% do lucro das empresas brasileiras com ações negociadas em bolsa em 2020 e uma expansão de 63,8% em 2021, conforme relatório divulgado na semana passada. A combinação das estimativas de lucro e o rali em abril levam o banco a enxergar um múltiplo preço/lucro do Ibovespa em 12 meses, excluindo Vale e Petrobras, em 13,9 vezes, um pouco acima da média histórica de 12,6 vezes.
Fonte: Valor Investe