28/08/2020

Segundo a consultoria britânica, o banco central dará continuidade ao processo de flexibilização em sua próxima reunião de política monetária

A nova estrutura de política monetária anunciada ontem no discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, aponta para uma abordagem mais frouxa por ainda mais tempo, na opinião da Capital Economics. Segundo a consultoria britânica, o banco central dará continuidade ao processo de flexibilização em sua próxima reunião de política monetária, o que sugere que o aumento dos rendimentos na ponta longa da curva de juros dos EUA, observado ontem, não deve ser duradouro.

A reação do mercado de ações ao discurso do chairman do Fed foi limitada, mas houve solavancos nos mercados de câmbio e juros. O dólar americano registrou grande volatilidade em relação aos pares do índice DXY, antes de dar sequência à sua trajetória de queda observada hoje, e o rendimento de 10 anos do Tesouro dos EUA fechou em forte alta, nas máximas desde junho.

Segundo Jonas Golterman, economista-sênior de mercados globais da consultoria britânica, embora os membros do Fed provavelmente vejam com bons olhos um dólar mais fraco – o que seria positivo para a recuperação dos EUA -, eles não devem ficar satisfeitos com o aumento dos rendimentos reais no país.

“Powell parece estar lançando as bases para mais flexibilização monetária neste outono [no Hemisfério Norte], provavelmente porque ele e o Fomc acreditam que a economia dos EUA ainda precisa de mais estímulos para se recuperar do choque do coronavírus”, afirma o economista.

Golterman afirma que o resultado mais provável desta dinâmica seja que a tendência recente de aumento nas expectativas de inflação continue, acompanhada por rendimentos nominais amplamente estáveis. Como resultado, os rendimentos reais no país devem seguir caindo.

“Isso porque acreditamos que o Fomc dará continuidade à sua nova estrutura de política com estímulos adicionais na sua próxima reunião em meados de setembro. Esperamos um guidance mais forte e, possivelmente, um aumento no ritmo de compra de ativos”, argumenta.

Mesmo que o Fed não se mostre disposto a adotar o controle da curva de juros (YCT), Golterman afirma que é pouco provável que a autoridade monetária americana permita que os rendimentos dos Treasuries subam, o que ameaçaria a recuperação da economia do país.

“Se estivermos certos, os rendimentos nominais dos títulos provavelmente ficarão em torno de seus níveis atuais e ainda podem cair mais um pouco. Prevemos que o rendimento do Tesouro de 10 anos terminará o ano em 0,5%, abaixo do seu nível atual”, conclui.

Fonte: Valor Investe