28/04/2020
Estrategistas e economistas apontam que as estimativas ficaram mais pessimistas devido aos indicadores econômicos

Em revisão de cenário divulgada hoje, o Morgan Stanley aprofundou sua estimativa de queda para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020, de 3,7% para 5,1%. A projeção para 2021 se manteve no terreno positivo, mas o crescimento previsto passou de 1,7% para apenas 1%.
Em relatório, a equipe de estrategistas e economistas do banco para Brasil apontam que as estimativas ficaram mais pessimistas devido aos indicadores econômicos já disponíveis e à perspectiva de que as medidas de quarentena para conter o avanço da pandemia de covid-19 terão duração maior.
“O Brasil está enfrentando uma crise sem precedentes, assim como o resto do mundo, mas sua falta de espaço fiscal o colocou em uma posição ainda mais desafiadora”, apontam os economistas Arthur Carvalho e Thiago Machado. Com um ponto de partida fraco, o país não conseguirá fazer um pacote fiscal proporcional ao tamanho do choque negativo sofrido na economia, afirmam Carvalho e Machado.
Considerando todas as medidas fiscais anunciadas e alguns gastos adicionais, os economistas do Morgan estimam que o déficit primário do setor público consolidado vai alcançar 8,8% do PIB. Já o déficit nominal chegaria a 14,1% do produto. “Acreditamos que o espaço para expansão adicional é limitado, uma vez que a dívida bruta já representa 76% do PIB”.
2021
O próximo ano também deve ser de resultados fiscais e crescimento econômico fraco na visão dos economistas do banco. No cenário do Morgan Stanley, o déficit primário será de 2,9% do PIB em 2021, enquanto a dívida bruta deve chegar a nível próximo de 90% do produto, patamar que seria desafiador para uma economia emergente.
“Tememos que a recuperação em 2021 também será comprometida pela profundidade da recessão deste ano e pela continuidade do ‘ruído político’”, comentam Carvalho e Machado. Ao contrário do previsto para outros emergentes, no Brasil a retomada econômica após a crise deve ser fraca, avaliam eles.
Em primeiro lugar, uma recessão tão forte deixará consequências, e muitas empresas, principalmente pequenas e médias, não devem sobreviver, observam os economistas para Brasil do Morgan. Além disso, famílias terão que arcar com o pagamento de despesas que não foram quitadas durante a crise, o que vai reduzir a demanda doméstica após a pandemia já ter sido controlada.
Do lado político, a contribuição para a atividade também não deve ser favorável. “Esperamos que o ruído político continue elevado no Brasil nos próximos meses, o que levará a menos clareza e menos demanda doméstica”, dizem eles. Segundo os economistas, o principal risco de baixa nas projeções atuais do banco não vem do coronavírus, mas sim da política.
Moody’s
A agência de classificação de risco Moody’s prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve cair 5,2% neste ano, sob efeito da pandemia do coronavírus. No fim de março, a casa estimava queda de 1,6%.
A agência também estima que a economia do G-20, grupo das 20 maiores economias do mundo, vai se contrair 5,8% neste ano, de uma baixa prevista antes de 0,5%.
Os efeitos econômicos da crise estão se acumulando rapidamente, diz a Moody’s, que avalia que a recuperação da atividade em 2021 ainda deixará as economias em níveis abaixo do período pré-crise. E os riscos para as previsões, diz a Moody’s, são de baixa.
“Existem riscos negativos significativos, caso a pandemia não seja contida e bloqueios tenham que ser restabelecidos”, diz a agência em nota. Uma dinâmica de perenidade da doença também poderia ocorrer, resultando em destruição em larga escala de empresas e de setores inteiros, bem como em uma taxa de desemprego estruturalmente alta, com uma perda permanente de capital humano, consumo e investimento.
Fonte: Valor Investe