12/07/2021
Empreendedor romeno Mircea Popescu, que era uma celebridade do bitcoin desde os primeiros anos da criptomoeda, morreu afogado aos 41 anos na Costa Rica
Um patrimônio cripto de quase US$ 32 bilhões (R$ 162 bilhões), a se considerar a cotação atual da criptomoeda de US$ 31,6 mil nesta quinta-feira (15), pode ter se perdido com a morte acidental de um pioneiro que alegava possuir mais de 1 milhão de bitcoins.
O romeno Mircea Popescu morreu aos 41 anos após se afogar enquanto nadava em uma região imprópria para banhistas na região de Playa Hermosa, na Costa Rica, em 23 de junho, segundo autoridades do país.
Popescu foi um dos primeiros investidores em bitcoins, e alegava possuir mais de 1 milhão de unidades da criptomoeda, embora estimativas mais conservadoras apontassem para um patrimônio de dezenas de milhares de unidades do criptoativo.
Ele criou uma exchange em 2012, a MPEx, e, nos anos seguintes, tornou-se uma figura popular no meio das criptomoedas.
Também foi centro de controvérsias, com diversas polêmicas em redes sociais – como quando foi acusado de racismo e sexismo, ou quando ameaçou vender seus bitcoins para derrubar o mercado, em represália contra iniciativas de programadores em defesa de atualizações técnicas na blockchain, a rede que registra e valida transações em bitcoins.
“Bitcoin é o destino. A moeda opera completamente fora de qualquer agência humana. “O bitcoin não está aqui para você opinar sobre ele. O bitcoin está aqui para mudar profunda e muitas vezes dolorosamente sua vida. Quer você concorde ou não, dê permissão ou não, quer você pense que é ‘aceitável’ ou qualquer outra coisa. Ninguém perguntou a você”, escreveu em um blog.
Agora, a comunidade especula se o empreendedor deixou com alguém suas chaves e senhas para acessar as carteiras digitais que contém os bitcoins.
Segundo programadores que se manifestaram em redes sociais, ainda não houve evidências na rede de movimentações desses bitcoins “antigos” – embora a blockchain seja criptografada, ela permite monitorar carteiras e as movimentações de unidades emitidas há muitos anos, ou há muito tempo paradas.
Caso se confirme, será mais uma perda para sempre de criptomoedas, junto de outros casos famosos de empreendedores que morreram – como o fundador da exchange canadense QuadrigaCX, que morreu e os clientes da empresa ficaram sem ter como acessar seus saldos, no total de 21 mil bitcoins (R$ 4 bilhões).
Também há diversos casos de investidores que acabam perdendo o acesso a seus bitcoins, como um programador de San Francisco que perdeu o acesso a 7.002 bitcoins (R$ 1,3 bilhão) porque esqueceu a senha do computador que continha a chave da carteira digital.
No início do ano, um britânico de 35 anos que sem querer jogou fora um disco rígido no qual guardava as chaves de acesso a 7.500 bitcoins (R$ 1,2 bilhão) e, depois, pediu às autoridades para vasculhar um lixão em busca do computador onde estavam os arquivos, sem sucesso.

Custódia requer cuidados
A tecnologia da blockchain, que registra as transações envolvendo criptomoedas, exige chaves privadas, sequências de letras e números que devem ser usadas em combinação com outras senhas para acessar as carteiras digitais.
A rede é descentralizada, ou seja, não é controlada por um indivíduo, empresa ou autoridade, mas regulada pela rede de computadores dos próprios usuários. Cada transação é originada de uma carteira digital que tem uma chave, uma espécie de assinatura que serve de prova matemática de que a remessa foi feita pelo dono dos bitcoins.
Esse é um dos pressupostos da cripto, programada para ser guardada pelos próprios detentores, sem a necessidade de intermediários. Em especial nos primeiros anos do bitcoin, era comum que os investidores guardassem suas criptos consigo.
Isso ainda é possível, mas hoje há outras opções, como custódias feita pelas próprias exchanges ou por outras empresas, algumas das quais fornecedoras também de serviços de carteira digital.
Outro alerta importante que o caso relembra é o de diferenciar a blockchain das plataformas das empresas. É muito raro que o investidor e a investidora em criptoativos tenham, de fato, a custódia de seus ativos digitais ou saibam acessar a blockchain propriamente dita.
Na maioria das vezes, a pessoa vê um saldo refletido em uma plataforma própria da empresa, ou seja, um número cuja única garantia é a reputação do prestador de serviço.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe