23/06/2021

Qual é a relação entre inflação e investimento? Muitas pessoas sabem que a primeira diminui seu poder de compra e afeta a rentabilidade das aplicações financeiras. Portanto, é preciso buscar alternativas que ofereçam um retorno real maior que a inflação.

No entanto, existe um grande percentual de pessoas que foca somente na remuneração bruta obtida pelo investimento, sem considerar outros fatores. Assim, é importante saber como fazer a escolha correta do investimento mais adequado para o momento da economia.

Neste artigo, você aprenderá como otimizar o seu retorno considerando os impactos da inflação nos investimentos. Vamos lá?

O conceito de inflação e sua relação com os investimentos

Os jornais falam sempre sobre a economia e mostram se os preços subiram ou apresentaram queda em determinado período. Por isso, o termo inflação é bastante comum no noticiário. Mas você sabe mesmo o que ele significa?

A inflação indica o aumento do preço de produtos e serviços — que acontece com o passar do tempo. Assim, representa a perda de valor do dinheiro ao longo dos anos, tendo em vista que um determinado montante deixa de ser suficiente para pagar as mesmas contas.

Para ficar mais simples, basta pensar em tudo que era possível adquirir com R$10 no ano 2000 e no que pode ser feito com o mesmo montante hoje. É bem provável que você perceba que, antes, conseguia comprar mais com essa quantia, certo?

O impacto da inflação no dia a dia

Para facilitar a compreensão, observe o aumento do valor da cesta básica com o passar dos anos. No ano 2010, ele era de R$ 265,15 na cidade de São Paulo, conforme dados elencados pelo Dieese. Em dezembro de 2020, já chegava a R$ 631,46 no mesmo município, conforme dados divulgados.

Em 2010 o salário-mínimo era de R$ 510 e era preciso R$ 265,15 para comprar os produtos da cesta básica. Se não tivesse havido a correção do valor do -mínimo, nos dias de hoje não seria possível sequer comprar uma cesta básica, que custa R$631,46.

Isso acontece porque a inflação é o processo de aumento dos preços e, assim, você vê o seu poder de compra diminuir. Por isso, quando se fala em investimentos é preciso buscar um ganho real, ou seja, acima dessa variação.

O maior impacto da inflação na economia brasileira

O impacto da inflação no cotidiano de uma pessoa foi bastante perceptível nos anos 1980. Se você passou pela época ou já estudou o assunto, deve saber que era comum chegar a um estabelecimento e encontrar alguém com uma máquina de remarcação de preços.

Na prática, isso fazia com que um produto mudasse de preço diversas vezes ao longo de um mesmo dia. Com a inflação mais controlada, essa variação não é tão intensa ou frequente — acontecendo ao longo dos meses.

Devido a essas mudanças constantes, muitos brasileiros temiam que seus salários valessem menos a cada dia. Assim, ficou mais comum o hábito de fazer compras no supermercado para o mês inteiro, por exemplo, a fim de economizar.

Em 1993, começaram tentativas mais contundentes de controlar a inflação. Para isso, até 30 de junho de 1994 o Brasil conviveu com duas moedas:

  • o cruzeiro, que variava conforme os índices de inflação da época;
  • a Unidade Real de Valor (URV), que variava de acordo com o dólar.

A partir de 1º de julho de 1994, foi criada uma nova moeda: o real, que começou com a paridade de 2.750,00 cruzeiros, valor da URV no dia, para cada R$ 1. Com a medida, a inflação foi controlada e, a partir disso, tornou-se mais barato comprar produtos e serviços.

No entanto, ela ainda é um índice relevante para a economia e tem efeitos significativos, embora menores do que essa época crítica. A sua variação é medida todos os meses para saber como está o desempenho do País e, até mesmo, direcionar a definição das taxas de juros aplicadas.

A relação da inflação com investimento

Entendendo o seu papel na economia, fica mais fácil entender que inflação e investimento têm uma relação direta, certo? Ainda assim, vale a pena se aprofundar sobre o assunto para que não restem dúvidas.

Um aspecto importante é entender que no Brasil existe uma taxa utilizada para tentar manter a inflação sobre controle. É a Selic, a taxa de juros básica da economia. Na prática, o rendimento de muitas aplicações financeiras também tende a acompanhá-la.

Além disso, existem investimentos indexados diretamente pela inflação. Em especial, pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que se tornou o medidor oficial da inflação no País. Nos dois casos, há impactos diretos na rentabilidade.

É preciso ter em mente que, quando o investimento não é atrelado à inflação, quanto maior ela for, menor tende a ser o retorno real. Por exemplo, o certificado de depósito bancário (CDB), geralmente, varia de acordo com taxas próximas à Selic ou mesmo valores prefixados.

Assim, além de conhecer a rentabilidade prometida, você precisa descontar o IPCA para ver qual é sua rentabilidade real. Um investimento com 7% de juros, por exemplo, na realidade não rende tudo isso. Ao ser descontada a inflação, seus ganhos reais são menores.

Por isso, a rentabilidade real se refere ao quanto você, de fato, receberá ao final, depois de descontar a inflação e possíveis encargos, como o Imposto de Renda (IR). Em determinados cenários, é possível que o ganho real seja inferior à inflação, fazendo com que você perca poder de compra.

Principais investimentos atrelados à inflação

Conhecendo a relação entre inflação e investimentos, é possível usá-la a seu favor. Tendo em mente o chamado ganho real, você pode buscar aplicações com remuneração atrelada ao IPCA, por exemplo. Elas protegem seu poder de compra ao garantir uma rentabilidade acima da inflação.

O motivo é que, além da vinculação ao IPCA, elas ainda apresentam uma taxa fixa em um percentual. Esse segundo fator é o que garante o seu rendimento real.

Tem interesse em saber quais são os investimentos que seguem essa regra? Descubra as principais opções a seguir!

Tesouro Direto

O Tesouro IPCA+ é um título público de retorno híbrido atrelado à inflação. Ele oferece um rendimento que cobre o aumento dos preços mais uma taxa fixa. Por exemplo, em consulta realizada em junho de 2021, as opções disponíveis e as rentabilidades propostas eram as seguintes:

  • Tesouro IPCA+ 2026, com rendimento de 3,52% + IPCA;
  • Tesouro IPCA+ 2035, com rendimento de 4,13% + IPCA;
  • Tesouro IPCA+ 2030, com rendimento de 3,89% + IPCA, com pagamento de juros semestrais;
  • Tesouro IPCA+ 2040, com rendimento de 4,13% + IPCA, com pagamento de juros semestrais;
  • Tesouro IPCA+ 2045, com rendimento de 4,13% + IPCA;
  • Tesouro IPCA+ 2055, com rendimento de 4,29% + IPCA, com pagamento de juros semestrais.

Perceba que em todos os casos o ganho efetivo é de um percentual determinado. É esse índice ao qual você deve ficar bem atento para conferir a remuneração real. Aqui, lembre-se de descontar ainda os possíveis encargos.

Outro ponto importante trata do prazo: o ano indicado no título indica o seu vencimento, mas é preciso conferir o dia e o mês. Ainda que eles tenham liquidez diária, os resgates antes do prazo se expõem ao preço de mercado e podem trazer perdas.

Assim, a rentabilidade só está garantida no vencimento. Por fim, saiba que os títulos disponíveis e as condições ofertadas variam ao longo do tempo. Portanto, é importante acessar a plataforma do Tesouro Direto para ver as opções atualizadas.

Renda fixa privada

Os títulos privados de renda fixa também podem estar atrelados ao IPCA com um percentual adicional. As principais alternativas são:

  • certificado de depósito bancário (CDB);
  • letra de crédito imobiliário (LCI);
  • letra de crédito do agronegócio (LCA).

As LCAs e LCIs têm como vantagem a isenção do IR. Como os encargos são menores, elas podem oferecer um potencial de remuneração maior. Por outro lado, vale a pena considerar as taxas oferecidas em outros títulos, pois elas podem ser suficientemente maiores para compensar a cobrança de imposto.

Vale considerar, ainda, que os investimentos ligados à inflação costumam ser de médio e longo prazo. E, de modo geral, não há facilidade para o saque antecipado dos valores. Ou seja, a liquidez é baixa, sendo preciso vender os títulos no mercado secundário.

Fundos imobiliários

Os aluguéis tendem a ser corrigidos pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP–M), outro indicador que mensura a inflação. Por conta disso, investir em fundos imobiliários focados em contratos de locação é uma alternativa de ter seus ganhos atrelados à inflação.

Eles funcionam de maneira semelhante a um condomínio. Você adquire cotas e participa de um fundo junto a outros investidores, com administração de um gestor profissional. Em fundos voltados para o aluguel, é possível ter uma renda passiva com dividendos — protegida da inflação.

O processo ocorre da seguinte forma: sempre que um contrato completa um ano, ele é revisado de forma automática. O valor é ajustado de acordo com o índice previsto no contrato, que costuma ser o IGP–M. Assim, o locatário paga mais para morar no mesmo local.

Consequentemente, você, como investidor, tem seu capital protegido pelo reajuste. Outra vantagem dos fundos imobiliários é a isenção de IR no pagamento dos dividendos. Porém, há tributação na venda das cotas com lucro.

Fundos de inflação

Também existem fundos de investimento em renda fixa que podem ter como objetivo superar ou acompanhar a inflação. São aqueles que têm como benchmark o IPCA ou o IMA-B, um índice de mercado ANBIMA que representa o desempenho de uma carteira teórico de títulos públicos híbridos.

Nesses fundos, o gestor aplica em títulos atrelados à inflação,. Em relação ao IMA-B, vale saber que ele conta com duas divisões que podem ser utilizadas como benchmark nos fundos.

São elas:

  • IMA-B 5: abrange os papéis com prazo máximo de cinco anos;
  • IMA-B 5+: envolve os títulos com mais de cinco anos.

Por suas características, o IMA-B representa o rendimento dos títulos do Tesouro IPCA+ e deve ser consultado ao optar por fundos de investimento desse tipo.

Dicas essenciais para tomar decisões com base na relação entre inflação e investimento

As aplicações financeiras apresentadas podem ser alternativas interessantes para quem busca investimentos com proteção contra a inflação. Mas ainda é preciso analisar outros fatores antes de decidir quais opções são as melhores.

Para ajudar nessa missão, confira três dicas!

Compare o rendimento do investimento e da inflação

Independentemente do seu perfil de investidor e da sua tolerância aos riscos é preciso considerar os efeitos da inflação na sua rentabilidade. Assim, o ideal é sempre comparar os rendimentos oferecidos com a oscilação de preços.

Se o investimento já estiver atrelado ao IPCA, o cálculo fica mais fácil. Basta avaliar a taxa fixa aplicada e fazer o desconto de possíveis encargos, como Imposto de Renda, taxa de corretagem etc. Já se a rentabilidade não tiver relacionada com a inflação, a análise deve considerar as duas taxas.

Ou seja, você precisa comparar a rentabilidade oferecida (ou potencial, no caso da renda variável) com a taxa de inflação do período. Somente com essa comparação é possível fazer a escolha mais adequada aos seus objetivos.

Saiba o que fazer quando a inflação estiver alta

Quando a inflação está alta é preciso ter um cuidado extra para proteger seu poder de compra. Afinal, os preços estão em constante elevação. Por isso, é bom visar ao longo prazo ao fazer os seus aportes.

Isso significa que seu capital deve permanecer investido por um tempo maior. Algumas das opções que podem ser seguras e têm essas características são o Tesouro IPCA+, o CDB, a LCI e a LCA, como você viu.

Além disso, é preciso se certificar de fazer escolhas rentáveis. No caso dos fundos imobiliários, é importante analisar o nível de vacância. Nesse investimento, não basta considerar apenas a inflação, porque se a unidade ficar sem locatário, não há rendimento.

Além disso, verifique se os imóveis são de qualidade e analise o histórico de remuneração do fundo, sempre com foco no longo prazo. Apesar de eles não trazerem garantias de rendimento futuro, podem mostrar como é o comportamento do veículo em diferentes cenários.

Entenda o que avaliar quando a inflação estiver baixa

O IPCA baixo, em princípio, é uma boa notícia para os investimentos. No entanto, é preciso analisar também a Selic. Quando a taxa básica de juros da economia diminui — como aconteceu em 2019 —, ela também reduz a rentabilidade das aplicações.

Assim, quando inflação e Selic estão em patamares reduzidos, os investimentos atrelados a ela e ao IPCA tendem a ser menos rentáveis. Mas lembre-se de que, qualquer que seja sua escolha, é importante analisar as alternativas para garantir a melhor para as suas necessidades.

Agora você sabe como aproveitar ao máximo a relação entre inflação e investimento. Não deixe de usar as informações para estimar quanto deve ganhar, conforme o histórico da aplicação, com o resultado do IPCA e saber qual pode ser o ganho real.

Mas não esqueça que resultado passado não é garantia de ganho futuro.

BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Como Investir