30/10/2020
Os ganhos observados no Ibovespa até a semana passada foram derretidos, principalmente, pelas preocupações com a segunda onda de covid-19 na Europa e algumas regiões dos EUA nos últimos dias. Ao longo do mês, impasse sobre acordo para estímulo para a economia americana e incertezas sobre teto de gastos no Brasil trouxeram cautela aos investidores
O mês de outubro até prometia ser um período positivo para a bolsa no Brasil. Mas prometeu e não entregou. Os ganhos observados no Ibovespa até a semana passada foram derretidos, principalmente, pelas preocupações com a segunda onda de covid-19 na Europa e algumas regiões dos Estados Unidos nos últimos dias.
O Ibovespa, que acumulava ganhos de 7% até sexta-feira passada, perdeu 7,22% nesta semana, no pior resultado para esse período desde março (-18,9%).

Com isso, o principal índice da bolsa brasileira fechou outubro em queda de 0,69%, no terceiro mês seguido no vermelho. Nesta sexta-feira, a queda foi de 2,72%, aos 93.952 pontos. No ano, as perdas acumuladas são de 18,8%.
O Ibovespa abriu o mês de outubro no patamar dos 94 mil, acelerou até os 102 mil pontos, mas fez o caminho de volta e até furou os 94 mil pontos no último pregão do mês.

“Foi um mês intenso, com as eleições americanas, Trump com covid-19, mais casos na Europa e nos Estados Unidos, e o estímulo americano com esse ‘tem, não tem, vai sair ou não’ fez com que tivéssemos muita variação nesse período”, resume Adilson Bonvino, sócio da Unnião Investimentos.
O número de contaminações por covid-19 nos Estados Unidos bateu ontem um novo recorde de 88.521 ontem, segundo a Universidade Johns Hopkins, mas os números vêm assustando os investidores desde o fim da semana passada, quando o número de infecções ultrapassou no sábado o recorde anterior, de 77,378, no dia 16 de julho.
Ao longo da semana países europeus, como Alemanha e França, anunciaram medidas restritivas de circulação de pessoas, com a adoção de toque de recolher, e os investidores passaram a vender as ações de forma geral, e até em pânico, com o temor que o novo fechamento de economias tenha em um mundo que tentava se recuperar ainda da primeira onda da covid-19.
“Sem contar que no ambiente doméstico tivemos ainda intriga ‘fiscal-política’ em nosso cenário que afetaram muito o mercado e como o exterior enxerga o Brasil”, afirma Bonvino.
O dólar comercial caiu 0,49% hoje, para R$ 5,7379, mas teve ganhos de 1,90% na semana e de 2,13% no mês, influenciado pelo mau humor generalizado e a fuga para ativos considerados mais seguros para momentos de turbulência. A valorização acumulada em 2020 ante o real é de 43,1%. Já o ouro, também considerado ativo de proteção, fechou o mês em queda de 0,8%.
O mercado de petróleo também sofreu com os receios de queda na demanda com o aumento do número de novos casos da covid-19 na Europa e nos Estados Unidos. Alguns campos de petróleo ainda foram afetados ao longo do mês por furacões que reduziram temporariamente a produção, ou seja, a oferta.
O contrato do petróleo tipo Brent (referência global) teve perdas de 8,5% no mês, e o tipo WTI (referência dos EUA) tombou 11% em outubro. Na semana, o petróleo WTI acumulou perdas de 10,2% e o Brent recuou 10,3%, levando ambas as referências da commodity para o pior resultado semanal desde abril.
O fluxo de investidores estrangeiros para a bolsa brasileira ficou positivo em R$ 3,17 bilhões em outubro, até ontem (28), resultado de R$ 250,48 bilhões em compras e R$ 247,31 bilhões em vendas. O fluxo de investidores pessoa física estava positivo em R$ 2,08 bilhões em outubro.
Um resumo do mês…

- A primeira semana do mês foi de alegrias. O Ibovespa fechou o período em alta de 3,69%, a despeito dos temores com os riscos fiscais, influenciado pelo bom humor do mercado americano. Naquela época o investidor ainda enchia o peito de esperança de que republicanos e democratas chegariam a um acordo sobre um novo pacote de estímulos fiscais para os Estados Unidos.
- A segunda semana de outubro teve risco do teto de gastos limitando os ganhos do Ibovespa na semana. Depois de alguns dias com os ânimos calmos em torno da política fiscal e uma aproximação amistosa entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, trouxe o balde de água fria. Mourão disse, em 15 de outubro, que “não vê problema” se o Renda Cidadã, substituto mais caro que o Bolsa Família, romper com o teto de gastos. Basta, para ele, ser “em comum acordo com o Congresso, que representa a sociedade como um todo”. O mercado não gostou.
- A terceira semana do mês, conhecida como semana passada, as ações de bancos “correram atrás do prejuízo” e, por terem uma fatia grande do índice, ajudaram o Ibovespa a ganhar 3% no período, aos 101.260 pontos. A expectativa de que os bancos entregariam bons resultados nos balanços do 3º trimestre ajuda a entender boa parte da corrida pelos papéis.
- Na última semana de outubro os bancos até entregaram os dados positivos esperados pelos analistas, mas foi insuficiente para enfrentar toda a avalanche de pessimismo que veio do exterior com a covid-19.
EUA
Os principais índices da bolsa americana também enfrentaram sua maior onda de vendas generalizadas desde março. Veja como fecharam as bolsas em Wall Street hoje:
- Dow Jones: -0,59% (26.502 pontos)
- S&P 500 -1,21% (3.269 pontos)
- Nasdaq -2,45% (10.912 pontos)
Europa
As bolsas europeias fecharam o dia sem direção única e encerraram a semana e o mês de outubro com perdas intensas.
Embora os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro e das quatro maiores economias da União Europeia tenham surpreendido positivamente no terceiro trimestre, a perspectiva para os últimos meses do ano é negativa diante da segunda onda de covid-19 e o restabelecimento de restrições à circulação social, fator determinante para a queda nesta semana.
O índice Stoxx Europe 600, que reúne 600 ações de 18 países, caiu 5,56% na semana, no pior resultado desde 12 de junho. Esse desempenho semanal levou o índice a terminar outubro com queda de 5,19%, o pior mês desde março.
Confira o fechamento das principais bolsas europeias nesta sexta-feira
- Índice Stoxx Europe 600 (vários países): +0,18%
- FTSE (Reino Unido): -0,08%
- DAX (Alemanha): -0,36%
- CAC 40 (França): +0,54%
- FTSE MIB (Itália): +0,40%
Ásia
As principais bolsas asiáticas fecharam em forte queda hoje, com os investidores atentos à segunda onda da covid-19 na Europa e nos EUA e cautelosos a poucos dias da eleição americana. Na semana, as principais bolsas do continente também tiveram perdas, com destaque para o tombo de 3,97% do índice sul-coreano Kospi.
Veja como fecharam os índices hoje
- Kospi (Coreia do Sul): -2,56% (2.267 pontos)
- Hang Seng (Hong Kong): -1,95% (24.107 pontos)
- SSE Composite (Xangai): -1,47% (3.225 pontos)
- Nikkei (Japão): -1,52% (22.977 pontos)
- ASX 200 (Austrália): -0,55% (5.928 pontos)
Destaques do Ibovespa
Das 77 ações que compõem o Ibovespa, 74 fecharam no vermelho nesta sexta-feira e o volume financeiro somou R$ 22,6 bilhões.
Veja os melhores e os piores desempenhos do mês abaixo:
As 5 melhores ações de outubro
Desempenho | Papel | Código | Variação (%) |
1 | CSN ON | CSNA3 | 24,48 |
2 | WEG ON | WEGE3 | 15,42 |
3 | SANTANDER BR UNIT | SANB11 | 14,63 |
4 | MAGAZINE LUIZA ON | MGLU3 | 10,45 |
5 | SUZANO PAPEL ON | SUZB3 | 9,88 |
Fonte: B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data
Rafael Ribeiro, analista de ações da Clear Corretora, destaca as empresas do setor siderúrgico, que seguem surfando a forte tendência de alta do minério de ferro, e também a Weg, que entregou “mais um resultado extremamente forte no trimestre e cada vez mais surpreendendo positivamente o mercado”.
As 5 piores ações de outubro
Class. | Papel | Código | Variação (%) |
1 | CVC BRASIL ON | CVCB3 | -23,87 |
2 | LOJAS AMERICANAS PN | LAME4 | -18,18 |
3 | IRB BRASIL RESSEGUROS ON | IRBR3 | -18,02 |
4 | COGNA ON | COGN3 | -17,18 |
5 | B2W DIGITAL ON | BTOW3 | -16,38 |
Fonte: B3 e Valor PRO. Elaboração: Valor Data. Valor Investe