O Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, registrou uma alta expressiva de 0,99% no dia 26 de junho de 2025, fechando aos 137.113,89 pontos. Esse aumento veio após uma leve queda no pregão anterior, quando o índice havia recuado mais de 1%, e reflete a volatilidade típica do mercado brasileiro, sempre influenciado por uma combinação de fatores internos e externos. O desempenho positivo deste dia, no entanto, deve ser analisado com mais cuidado, levando em conta os fatores que impactaram tanto a economia quanto as ações no Brasil.
Congresso Derruba Decreto do IOF e Aumenta Incertezas
Um dos fatores que geraram especulação sobre o futuro do mercado financeiro brasileiro foi a derrubada, no Congresso Nacional, do decreto presidencial que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Esse aumento no IOF havia sido um ponto de discussão entre o governo e as lideranças do Legislativo. A aprovação dessa medida foi vista como uma tentativa de equilibrar as contas públicas em meio a um cenário fiscal delicado, mas a sua rejeição no Congresso gerou incertezas adicionais.
Segundo Raphael Figueredo, estrategista da XP, a decisão do Congresso revelou a dificuldade do governo em lidar com a pressão política e fiscal. Ele destacou que o país ainda não encontrou uma solução prática para resolver os desafios fiscais, especialmente quando se considera a aprovação de aumentos nas despesas, como a proposta de ampliação no número de parlamentares. Esse tipo de medida, que aumentaria o custo público em R$ 94 milhões, reflete a complexidade da governança fiscal no Brasil. A instabilidade fiscal é um fator que pode desencadear movimentos de venda no mercado de ações, caso os investidores percebam risco elevado de endividamento público ou perda de confiança nas políticas econômicas.
No entanto, essa situação não foi o único fator que influenciou o comportamento do mercado naquele dia. Mesmo com essa derrubada do decreto do IOF, o mercado financeiro brasileiro registrou ganhos devido a outros acontecimentos macroeconômicos e políticas mais positivas.
Dados Econômicos Favoráveis Impulsionam o Mercado
Outro fator que contribuiu para a alta do Ibovespa foi a divulgação dos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15), a prévia da inflação oficial. O IPCA-15 apresentou uma variação de 0,26% em junho, abaixo da expectativa de 0,30%, o que indicou um controle um pouco maior da inflação do que o esperado pelo mercado. Esse alívio nas pressões inflacionárias gerou uma reação positiva nas taxas de juros futuros, com a expectativa de que o Banco Central poderia manter a política monetária mais branda por mais tempo, beneficiando as ações de empresas que são sensíveis a mudanças nas taxas de juros.
Com a inflação controlada, o mercado financeiro ganha fôlego, pois a expectativa de juros mais baixos no futuro pode impulsionar investimentos em ações, especialmente em setores que são beneficiados por uma política monetária mais frouxa, como o setor de consumo e tecnologia. Além disso, o mercado de crédito também se beneficia de uma inflação controlada, o que pode estimular a demanda por financiamento e aumentar a capacidade de consumo das famílias.
Commodities e Cenário Externo
Além dos fatores internos, o cenário internacional também teve um papel importante na performance positiva do Ibovespa. O preço do petróleo Brent, referência para o mercado brasileiro, fechou o dia com leve alta de 0,07%, cotado a US$ 67,73 o barril. Essa leve valorização se deu principalmente devido a expectativas mais positivas sobre o cessar-fogo entre Israel e Irã, o que trouxe um alívio para o mercado de commodities e evitou uma escalada maior nas tensões geopolíticas.
Com a pressão nos preços do petróleo amainando, o mercado brasileiro se viu alavancado, principalmente com os papéis da Petrobras, que têm forte correlação com o preço do petróleo. A alta no preço da commodity impulsionou as ações da Petrobras, que registraram um avanço de 0,90% para a ação preferencial (PETR4) e 0,59% para a ação ordinária (PETR3). Esses números são indicativos da forte sensibilidade do mercado brasileiro a variações no preço do petróleo, refletindo o peso da Petrobras e da Vale na composição do Ibovespa.
No mercado externo, os índices de Wall Street também tiveram uma alta significativa, o que ajudou a impulsionar o Ibovespa. Esse movimento foi atribuído à expectativa de que os Estados Unidos possam adiar novas tarifas comerciais, o que ajudaria a reduzir o impacto das tensões comerciais sobre a economia global. O apetite por ativos de risco aumentou, impulsionando bolsas de valores ao redor do mundo, incluindo a brasileira.
Desempenho das Ações no Ibovespa
Entre as ações mais destacadas do dia, as da Vale (VALE3) brilharam, com uma valorização de 3,01%, fechando a R$ 52,00, reflexo direto do bom desempenho das commodities, especialmente o minério de ferro e o petróleo. A Vale, sendo uma das maiores exportadoras de minério do mundo, se beneficia diretamente do aumento da demanda e dos preços internacionais.
Além disso, as ações de empresas de tecnologia e consumo também tiveram um desempenho superior, com o setor varejista se destacando. O papel da Azza (AZZA3) subiu 6,23%, refletindo um otimismo renovado em relação ao consumo interno, especialmente após os dados mais favoráveis de inflação.
Por outro lado, o setor de locadoras de veículos teve um desempenho negativo, com a ação da Vamos (VAMO3) caindo 7,14% e a Rentcars (RENT3) apresentando a maior queda do dia, com uma desvalorização de 7,28%. Essa queda reflete as dificuldades do setor em lidar com a flutuação econômica e a diminuição na demanda por aluguéis de veículos, especialmente em tempos de incerteza econômica.
Mercado Cambial: O Dólar e a Expectativa de Política Monetária
No mercado cambial, o dólar comercial encerrou o dia com uma queda de 0,99%, cotado a R$ 5,499. A desvalorização do dólar foi impulsionada pela expectativa de que o Banco Central do Brasil manteria sua política cambial, mesmo diante dos recentes leilões de câmbio. Além disso, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a outras moedas, recuou 0,44%, indicando uma tendência de desvalorização global da moeda americana.
O enfraquecimento do dólar também foi percebido como um reflexo das políticas monetárias mais relaxadas dos principais bancos centrais, o que acabou favorecendo os ativos emergentes, incluindo o Brasil.
Desempenho Semanal, Mensal e Anual
No acumulado da semana, o Ibovespa não registrou grandes variações, mas no mês de junho, o índice apresentou uma leve valorização de 0,06%. O segundo trimestre de 2025, no entanto, foi mais robusto, com uma alta de 5,26%, o que foi interpretado como uma recuperação do mercado em meio a um ano turbulento. Até o momento, o Ibovespa já acumula uma alta de 13,99% no ano, um desempenho impressionante, dado o cenário político e econômico conturbado.