Na segunda-feira, dia 29 de setembro de 2025, o Ibovespa estreou o pregão em alta vigorosa — ganhou cerca de 1,25%, atingindo 147.257 pontos logo na abertura e renovando sua máxima histórica intradiária. Com o decorrer do dia, o ritmo deu uma leve desacelerada, mas o índice ainda avançava cerca de 0,70% às 14h30.

Esse movimento de alta acendeu o debate entre investidores: o que está por trás desse impulso? Há motivações no âmbito doméstico e, talvez com mais peso, fatores externos que favorecem o mercado local.


Fatores domésticos de suporte

1. Revisões no Relatório Focus

O relatório Focus, que compila projeções de mercado (instituições financeiras, consultorias etc.), trouxe dados mais favoráveis:

  • A expectativa para o IPCA de 2025 caiu de 4,83% para 4,81%.

  • Para 2026, a estimativa baixou para 4,28% (era 4,29%).

  • No câmbio, espera-se que o dólar feche 2025 em R$ 5,48 (era estimado em R$ 5,50), e para 2026, R$ 5,58 (ante R$ 5,60).

Tais revisões sugerem que as pressões inflacionárias e cambiais estão sendo vistas com menor intensidade, o que dá um alívio para o ambiente econômico interno.

2. Ambiente político e diálogo internacional

Outro ponto citado como positivo foi o possível encontro entre Donald Trump e Lula. Há expectativas de que uma aproximação diplomática possa levar à redução de tarifas previamente impostas ou ao abrandamento de tensões comerciais. Isso reduz o risco de novas retaliações entre Brasil e Estados Unidos — algo que historicamente impacta fortemente ativos locais.

Esse tipo de “cena diplomática” tende a influenciar o humor internacional e trazer mais confiança aos emergentes, especialmente quando há sinais de normalização nas relações comerciais.


O motor externo: “busca por risco” global

Segundo os analistas, o fator externo parece estar desempenhando papel ainda mais decisivo nessa alta.

1. Dados americanos e expectativa de cortes de juros

Há expectativa de que o dado de criação de empregos nos Estados Unidos, que será divulgado em 3 de outubro, mostre menor vigor no mercado de trabalho. Se confirmada essa fraqueza — mas sem que haja um colapso completo — o Federal Reserve (Fed) pode seguir com sua estratégia de cortes graduais de juros, na tentativa de estimular a economia sem provocar uma recessão severa.

Cenários que apontam para juros mais baixos nos EUA tendem a favorecer fluxos de investimento em ativos de risco — ou seja, emergentes, ações, mercados com maior potencial de retorno.

2. Valorização dos emergentes

Em ambientes globais nos quais acontece a “busca por risco”, mercados emergentes geralmente se beneficiam. Investidores que buscam retornos mais agressivos migram recursos de ativos muito “seguros” para estratégias com maior risco — ações, países com juros atrativos ou com perspectiva de crescimento. O Brasil, por estar classificado nesse grupo, está captando parte desses fluxos, puxando o Ibovespa para cima.


Riscos e pontos de atenção

Nem tudo são flores, e é essencial manter a cautela:

  • Se os dados americanos vierem surpreendentemente fortes, a expectativa de cortes de juros pode desaquecer, gerando rotação de portfólios.

  • A instabilidade política ou surpresas fiscais no Brasil podem reverter parte desse otimismo interno.

  • Qualquer nova escalada de tensões comerciais entre grandes potências (EUA-China, EUA-União Europeia etc.) pode repercutir negativamente sobre mercados emergentes.


O que o investidor pode fazer diante desse cenário?

  1. Revisitar alocações em renda variável
    Com ambiente externo favorável e menores riscos internos percebidos, pode valer a pena avaliar se sua carteira está adequadamente exposta ao mercado de ações.

  2. Setores mais sensíveis ao câmbio
    Empresas exportadoras ou com receitas em dólar tendem a lucrar em cenários de desvalorização da moeda local — ou nos casos em que o câmbio está mais tranquilo, recebem um estímulo adicional.

  3. Atenção à diversificação
    Apesar do momento positivo, imprevistos externos ou internos podem bater à porta. Ter alocação em renda fixa, fundos multimercado ou até proteções (hedges) pode ajudar a suavizar eventuais quedas.

  4. Monitorar dados econômicos e agenda política
    Os próximos indicadores dos EUA (emprego, inflação) e acontecimentos políticos (negociações bilaterais, pacotes domésticos) serão cruciais para confirmar ou reverter o movimento atual.