04/02/2021
A percepção de que os juros baixos no Brasil vieram para ficar, ainda que em um cenário pandêmico e caótico como o atual, fez com que os gestores de fundos geralmente menos ousados ampliassem seu apetite ao risco em busca de bons retornos aos seus cotistas. É o caso dos fundos de previdência que, passado os piores momentos nos mercados de ações, voltaram às compras.
A inclusão de parcelas maiores de renda variável nos fundos de previdência ajuda também a aumentar o apelo aos novos investidores, que se mostraram, em grande parte, resilientes aos sacolejos da bolsa no último ano.
“O investidor pessoa física deu uma aula nos investidores institucionais e profissionais, porque os ativos foram lá para baixo e ele viu a bolsa voltar e até fazer nova máxima histórica”, dizWalter Maciel, presidente da AZ Quest, destacando que esses momentos turbulentos realmente não deveriam incomodar quem investe a tão longo prazo, para a aposentadoria.
A fala de Maciel encontra base no aumento de 94% no número de contas de pessoas físicas na B3, a bolsa brasileira, em 2020, período em que o Ibovespa saiu do recorde (até então) de 119.123 pontos em janeiro e encontrou o fundo do poço em 61.690 pontos em março. É como se os pequenos investidores tivessem finalmente entendido que o sobe e desce faz parte do jogo e que momentos de baixa podem ser tolerados, de acordo com seu perfil de risco.
Para quem quer buscar maior potencial de retorno, mesmo envolvendo maior risco, até nos fundos de previdência, Maciel avalia que os multimercados são boas opções, já que eles dançam conforme a música que o mercado estiver tocando.
“Estamos vendo uma procura maior por renda variável“, diz Maciel, que tem adaptado os fundos multimercados de previdência da AZ Quest para acessar também investimentos internacionais. “É uma coisa nova, que antes não podíamos fazer“, conta.
Desde 1º de janeiro de 2020 os novos fundos e planos de previdência podem comprar mais ativos no exterior e alavancar seus investimentos, conforme as novas regras da resolução nº 4.444 do Banco Central. Antes da alteração da resolução no ano passado, o percentual de investimentos no exterior permitido para fundos de previdência era 10%. Agora, esses fundos acompanham a norma CVM 555, que permitem 20% aos investidores em geral e 40% aos qualificados (com mais de R$ 1 milhão investidos).
Carlos Messa, gestor na Quasar, também notou uma migração dos investidores de fundos de previdência conservadores para mais arriscados. “Dinheiro de previdência é de longo prazo, faz sentido que o investidor queira mais rentabilidade e também mais risco. Nos fundos dá para fazer isso com pouco dinheiro, acessar uma carteira com mais de 70 ativos”, diz Nathan Shor, gestor da Quasar.
Para apostar em maior risco em busca de mais rentabilidade sem sofrer com resgates de investidores desesperados com momentos pontuais do mercado, o fundo Quasar Crédito Previdenciário tem prazo de 90 dias para pagar o investidor após o pedido de resgate. “A cotização mais longa inibe o investidor de ficar fazendo movimentos no calor do mercado“, diz Messa.
Tomar mais risco sim, mas sempre pensando no longo prazo. É o que também busca a gestão da Perfin, com análises fundamentalistas, poucos movimentos de rotação da carteira e dando preferência a empresas menos suscetíveis à fatores externos.
“O que vem acontecendo hoje é que as gestores independentes vêm replicando um fundo já aberto no mercado para um veículo de previdência“, dizSuzana Vescovi, responsável pela relação com investidores da Perfin.
Vescovi destaca a vantagem tributária de ter um fundo de previdência que investe em ações em relação a fundos “puros” de renda variável. “No fundo de ações o investidor teria 15% de alíquota de imposto de renda e no veículo de previdência, se optar pela tributação regressiva e ficar mais de 10 anos no fundo, essa alíquota cai para 10%. No longo prazo pode trazer uma diferença significaria para o investidor“, explica.
Os fundos de previdência também são opções para o planejamento sucessório, já que é possível deixar um beneficiário definido em inventário em caso de falecimento do investidor.

Estratégias
No caso da AZ Quest, os fundos de previdência têm posição comprada nos índices Ibovespa e S&P 500 e também no real, ou seja, acreditam que haverá valorização desses ativos. “Achamos que o real está atrasado ante boas moedas no mundo”, justifica Maciel sobre sua perspectiva de queda do dólar ante a moeda brasileira.
Na Quasar, 30% do portfólio de fundos de previdência está no mercado brasileiro, com as maiores exposições a Banco do Brasil e Cosan. Outros 20% do patrimônio está voltado para a China, e mais 20% em países da América Latina, como México e Colômbia, a Argentina fica de fora. Há ainda exposição a ativos de outros países asiáticos, como Indonésia, Filipinas e Vietnã.
As estratégias de investimentos da Perfin vão de três meses a cinco anos. Entre as escolhas, a gestora tem posição importante no setor de energia, com destaque para a Alupar e Cesp, que fazem parte do portfólio de previdência desde 2016 e 2018, respectivamente. Também estão na carteira Localiza, Petz, e Itaú.
Fonte: Valor Investe