25/05/2020

As condições de alguns setores da economia deixaram de piorar e sinalizam uma retomada

O transporte de carga por caminhões voltou a crescer. As viagens áreas e as reservas de hotéis tiveram pequena recuperação. Os pedidos de hipoteca estão aumentando. E mais pessoas estão solicitando autorização para abrir novos negócios. Esses são alguns dos primeiros sinais de que a economia dos Estados Unidos está, muito lentamente, retornando à normalidade após as quarentenas decretadas para combater a pandemia de covid-19.

A maior parte dos dados mostra que o país ainda estava em crise durante os meses de abril e maio, com a atividade geral das empresas caindo e as demissões aumentando — embora mais lentamente do que nas primeiras semanas da crise. As estimativas atuais projetam um recuo de 6% a 7% neste ano, com o desemprego na casa de dois dígitos por algum tempo. Mas, pela primeira vez desde os confinamentos generalizados, as condições de alguns setores da economia deixaram de piorar e sinalizam uma recuperação.

“Se esta for a única onda [de infecções de covid-19], parece que chegamos ao fundo do poço e o processo de normalização começou”, projetou Beth Ann Bovino, economista-chefe para os EUA da S&P Global Ratings.

Os gastos com hotéis, restaurantes, companhias aéreas e outros setores afetados pelo distanciamento social continuam baixos, mas parecem estar crescendo.

O total de viajantes que passou pelas fiscalizações da Administração de Segurança de Transportes em 14 de abril foi de 87.534, uma queda de 96% em relação ao mesmo dia de 2019. No entanto, em 22 de maio, esse número triplicou, para 348.673, apesar de ainda ser 88% menor na comparação anual. Enquanto isso, dados do OpenTable, um serviço virtual de reservas de restaurante, mostram que os americanos estão voltando a comer fora de casa em muitos Estados.

“Passamos pelo pico dos danos”, afirmou Gregory Daco, economista-chefe para os EUA da Oxford Economics. “Os indicadores estão mostrando uma recuperação crescente em termos de quanto as pessoas estão gastando. Você pode ver essa reviravolta nos dados, o que é encorajador, mas é preciso ter cuidado já que estamos nos recuperando de níveis extremamente deprimidos”.

O setor de transporte de carga ilustra essa tendência positiva. Os números se mantêm baixos em níveis históricos, mas sugerem que o pior já passou.

O Truckspot.com, que mede a demanda por caminhões, registrou uma melhora de seu índice semanal por quatro semanas consecutivas. Houve um crescimento de 27% nos últimos 7 dias. Já a DAT Solutions LCC, que combina remessas de frete com caminhões disponíveis, afirma ter registrado um crescimento de 22% na semana encerrada em 10 de maio na comparação com os sete dias anteriores.

A Old Dominion Freight Line, uma das maiores transportadoras do país, disse que o volume de cargas sofreu uma profunda queda no início de abril. Desde então, a empresa disse que a demanda “permaneceu bastante estável”.

“Gostaríamos de pensar que o pior já passou”, disse Greg Gantt, executivo-chefe da transportadora.

Essa visão é repetida pelo governo Donald Trump. Kevin Hassett, um dos principais consultores econômicos da Casa Branca, disse no domingo que há sinais incipientes de que a economia do país começou a se recuperar dos danos provocados pelos confinamentos, embora projete que o desemprego chegue a 20% no fim deste mês.

“Acho que estamos muito perto de um ponto de inflexão em termos de atividade empresarial. E estamos provavelmente um mês distantes [desse ponto] em termos de desemprego”, disse ele em entrevista à emissora americana “CNN”.

O início de abril marcou um período sem precedentes para o mercado imobiliário, de acordo com dados da ShowingTime, empresa que fornece software para o setor. Com as cidades fechadas, o número de visitas a imóveis em todo país, um índice que mede a demanda no segmento, caiu 50%. No entanto, houve recuperação em maio, com alta de 23%, segundo a empresa. Já números da Mortgage Bankers mostram uma recuperação nos pedidos de hipoteca.

Além disso, as montadoras de automóveis nos EUA reiniciaram parcialmente suas operações em grande parte das fábricas na semana passada, apesar de enfrentarem interrupções na cadeia de suprimentos.

Grande parte da retomada da atividade reflete as decisões de alguns Estados, entre eles Flórida, Geórgia e Ohio, de começarem a abrir segmentos de suas economias que foram paralisados para impedir a propagação do vírus. Isso deve aumentar os gastos dos consumidores, à medida que mais pessoas se aventuram em lojas e restaurantes.

Ainda assim, as perspectivas econômicas continuam incertas. Os recentes sinais de esperança coincidem com um aumento dos gastos emergenciais do governo aprovados pelo Congresso. Os efeitos da ajuda, como os reajustes no programa de seguro-desemprego, podem diminuir nos próximos meses. Funcionários do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, alertam sobre uma nova piora nas condições econômicas caso haja uma segunda onda de infecções.

O consumo interno é o maior combustível para o crescimento econômico dos EUA. As perspectivas para que ele aumente dependem se as empresas conseguirão recontratar os milhões de empregados dispensados à medida que a reabertura econômica avance. É provável que as pessoas voltem a gastar se sentirem economicamente seguras.

Fonte: Valor Investe