13/01/2021
Segundo dados da Anbima, em 2020, as empresas brasileiras conseguiram captar R$ 119,3 bilhões por meio de ofertas de ações (IPOs e follow-ons)
O mercado de capitais brasileiro apresentou dois lados da moeda em 2020. Se por um lado, as oferta de ações brilharam com o melhor desempenho desde 2010, quando a megacapitalização da Petrobras sozinha gerou praticamente o mesmo montante registrado no ano passado, de outro a renda fixa e os instrumentos híbridos observaram uma queda de 26,9% comparados a 2019.
Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, em 2020, as empresas brasileiras conseguiram captar R$ 119,3 bilhões por meio de ofertas de ações.
Trata-se do melhor resultado da história, com exceção de 2010, quando a Petrobras fez uma capitalização de R$ 120 bilhões, o que elevou o montante das emissões daquele ano para R$ 149 bilhões.
O resultado do ano passado na renda variável é 32,6% superior ao de 2019, segundo a Anbima. Para o vice-presidente da associação, José Eduardo Laloni, “tivemos um ano excepcional para renda variável”.
Na renda fixa, houve queda de 15% no montante captado comparado a 2019. Em 2020, as empresas registraram um volume de emissões no segmento de R$ 250,5 bilhões, frente a R$ 342,6 bilhões um ano antes.
No total, no mercado de capitais doméstico, as empresas brasileiras captaram R$ 369,8 bilhões, uma queda de 15% frente a 2019. “Foi um ano bastante desafiador para todos os segmentos, mas o mercado de capitais reagiu muito bem ao impacto da pandemia. Mesmo em março do ano passado [no auge das incertezas sobre a covid-19] os mercados continuaram abertos e isso foi importante para as empresa naquele momento”, diz Laloni.
Na visão do dirigente, o resultado do ano passado é positivo porque “2019 foi um ano recorde [de emissões] e vínhamos de anos seguidos de crescimento no mercado de capitais”. Para Laloni, “se entrar nos detalhes de 2020 temos coisa muito boas para contar”.
A conta da retração da renda fixa recai principalmente sobre as debêntures. Houve uma queda de 34% no volume de emissões do títulos de dívida em 2020 frente ao ano anterior.
Em 2019, as empresas captaram R$ 187,4 bilhões com debêntures, na soma das incentivadas e tradicionais. No ano passado, as emissões recuaram para R$ 122,1 bilhões, segundo a Anbima.

Apesar da retração anual, os números da entidade mostram um movimento de normalização no quarto trimestre. “Nos últimos três meses de 2020, vemos as debêntures tradicionais voltando ao patamar de R$ 36 bilhões”, volume acima do visto no mesmo período de 2019. “O mercado entrou em uma tendência a voltar aos volumes recordes que temos observado nos últimos anos”, reforça Laloni.
O dirigente da Anbima chama a atenção para a mudança de composição dos perfis de investidores do mercado de debêntures. Os chamados intermediários, que são bancos e demais participantes ligados às ofertas, pularam de uma fatia de 30,6% em 2019 para 64,5% um ano depois.
Já os fundos de investimento recuaram de 48,8% para 23,4% em 2020. “Mas, no final do ano, quando o mercado começou a funcionar melhor começamos a ver os intermediários das ofertas diminuírem a presença e os fundos aumentar novamente”, diz Laloni.
No segmento de instrumentos híbridos, que abrange securitizações, como certificados de recebíveis imobiliários e do agronegócio (CRIs e CRAs), fundos de investimento em direitos creditórios (fidc), notas promissórias e fundos imobiliários (FII), o volume captado ficou 13,8% abaixo de 2019. Esse grupo fez emissões totais de R$ 127,5 bilhões antes R$ 147,9 bilhões um ano antes.
Os FII se destacaram no segmento, com uma captação recorde de R$ 44,1 bilhões, acima da marca anterior registrada em 2019 de R$ 41,4 bilhões.
No mercado externo, as empresas registraram um volume de US$ 25,8 bilhões em captações. Convertido para o câmbio de hoje, o montante alcança R$ 136,5 bilhões.
No total, se forem somadas as captações domésticas com o financiamento internacional, as companhias brasileiras obtiveram R$ 506 bilhões em recursos no mercado de capitais.
O vice-presidente da Anbima avalia que o ano de 2021 tende a ser promissor para as ofertas no país e no exterior. “O cenário internacional é de altíssima liquidez e juros baixos no mundo inteiro e esse é um cenário benigno para os emergentes de uma forma geral.”
Segundo Laloni, já existem mais de 40 operações de abertura de capital em andamento, que devem se materializar até maio. Além disso, “a gente vê a participação investidor estrangeiro crescente nos últimos meses e isso pode ser uma tendência”.
A fuga de recursos para fora do país vista até o terceiro trimestre, aponta o vice-presidente da Anbima, “foi revertida o fim do ano passado”.
Laloni reafirma esperar que “2021 seja um ano maravilhoso, com a volta forte de captação de renda fixa e movimento intenso de IPOs e follow-ons”. O cenário macro é favorável, com perspectiva de juros baixos para os próximos anos.
O dirigente também cita a disseminação das plataformas digitais de investimento. “Temos ainda o fenômeno das plataformas, que estão dando mais acesso aos investidores pessoa física ao mercado de ações”.
Fonte: Valor Investe