20/03/2020

Diretores passaram a se reunir para tentar conter os efeitos da doença

Pelo menos uma vez por dia, cinco diretores da companhia educacional Ânima e um infectologista reúnem-se virtualmente para discutir os efeitos da expansão do coronavírus nas atividades da empresa, dos seus 140 mil alunos e dos funcionários e para decidir quais medidas serão tomadas para lidar com a situação extraordinária.
As reuniões começaram a ser feitas no fim de fevereiro, quando a doença já havia se espalhado pela Itália e por outros países europeus e passou a afetar o planejamento da companhia. Desde então, já foi decidido pelo grupo desde a manutenção preventiva de ar-condicionados até a substituição das aulas presenciais por aulas on-line e a adoção gradual do trabalho remoto para funcionários.
“Nós também acompanhamos todos os casos suspeitos e atualizamos as decisões de autoridades estaduais e municipais para tomar decisões de forma imediata”, diz Carolina Marra, vice-presidente de pessoas e transformação digital.
Das 59 empresas de capital aberto que divulgaram nos últimos sete dias avaliações preliminares sobre os reflexos da pandemia nos negócios, 32 declararam ter criado um comitê de crise, responsável por elaborar planos de contingência e tomar medidas como a antecipação de férias coletivas, o fechamento de estabelecimentos e a redução das jornadas.
Na Duratex, que fabrica painéis de madeira, louças e metais sanitários, o tema começou a ser acompanhado em janeiro. Em fevereiro, a área de recursos humanos começou a fazer parte das discussões e, em março, foi instalado um comitê de crise mais abrangente, incluindo todas as áreas das empresas e representantes dos negócios no
Brasil e na Colômbia. “As reuniões são diárias, inclusive aos finais de semana e acontecem virtualmente durando, em média, uma hora”, diz Antônio Joaquim de Oliveira, presidente da companhia.
Na EDP Energias do Brasil, o comitê de crise é composto por dez pessoas, incluindo membros da alta administração, como diretor-presidente e presidente do conselho, o responsável pela gestão de riscos, por recursos humanos e pela comunicação. Desde janeiro, a rotina do grupo inclui apresentações diárias sobre a situação do vírus pelo mundo e nos Estados em que a empresa atua e o monitoramento de possíveis casos entre funcionários ou fornecedores, antes do início das discussões.
Entre os pontos já abordados pela companhia estão a limpeza extensiva dos estabelecimentos, a possibilidade de trabalho remoto para cargos administrativos, o cancelamento de viagens internacionais e mudanças na maneira como as equipes que atuam nas ruas trabalham.
“Decidimos que as equipes de campo, que trabalham com corte e religação de energia, deveriam ser divididas em grupos menores para evitar o encontro de muitas pessoas ao mesmo tempo”, explica Vanderlei Ferreira, diretor de gestão de risco e coordenador do comitê.
Na Linx, empresa que fornece softwares para o varejo, além dos procedimentos para evitar o contágio, o comitê também discute o andamento de projetos e acompanham a qualidade do suporte aos clientes, que passou a ser feito por funcionários em casa. “Até o momento, todas as atividades estão normais e o atendimento aos clientes segue no mesmo nível de qualidade”, diz Flávio Menezes, vice-presidente de pessoas e marketing.
A possibilidade de trabalho remoto para parte ou para a totalidade de funcionários foi adotada por 40 companhias e a concessão de férias coletivas por oito, das 59 que divulgaram comunicados ou fizeram comentários sobre a pandemia nas demonstrações financeiras desde que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recomendou às companhias abertas, há uma semana, que considerem “cuidadosamente” os impactos da pandemia nos negócios e que avaliem, caso a caso, a necessidade de divulgar ao mercado comentários sobre o tema.
Outras medidas citadas foram o fechamento de fábricas ou lojas, flexibilização de jornadas, escalonamento do horário de entrada de fábricas ou obras, cancelamento de viagens nacionais e internacionais, cancelamento de eventos, intensificação da higienização e quarentena para funcionários com sintomas.

Fonte: Valor Investe