18/06/2020
Ou seja, em proporção menor nas reuniões a partir de agosto

Na reunião que trouxe a Selic para 2,25% ao ano, no menor patamar da história, o Copom deixou a mensagem de que está prestes a encerrar o ciclo de corte, mas não deu sua tarefa por encerrada, segundo participantes do mercado. A expectativa, agora, é que os ajustes sejam residuais, ou seja, em proporção menor nas reuniões a partir de agosto.
A redução da projeção para a inflação em 2021 pelo Copom deixou a porta aberta para um novo corte na taxa básica na próxima reunião, de 0,50 ponto percentual, segundo Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management.
“Existe um discurso conservador do BC, mas deixou a porta aberta caso haja necessidade de cortes futuros. O que faz com que deixe a porta aberta são as projeções de inflação, que seguem caindo”, diz Weeks, destacando que a estimativa anterior era de 3,4% e passou a 3,2%, abaixo da meta.
Segundo Weeks, a projeção da Garde é de um corte de 0,50 ponto na próxima reunião e depois de mais 0,25 ponto, chegando a Selic em 1,5% ao ano. Apesar da sinalização via inflação, Weeks pondera que o cenário é de incertezas, com o Copom indicando que é preciso aguardar os efeitos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) das medidas de incentivo à economia.
O economista-chefe do Banco Haitong no Brasil, Flávio Serrano, destaca o fato de o Copom ter mencionado que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual, e que o colegiado vê assimetria de riscos para cima.
“O Copom sinaliza que estamos muito próximos do fim. É claro que existem muitas incertezas. De um lado, a extensão da pandemia pode gerar queda adicional da demanda, o que geraria a necessidade de novos cortes. Por outro, os estímulos já aplicados e o quadro fiscal pior geram uma assimetria no balanço de riscos para cima. Se for necessário, o BC corta mais, mas se fizer isso, será de maneira muito gradual”, diz o profissional. “Se nada mudar radicalmente para a próxima decisão, a expectativa fica entre manutenção e leve queda de 0,25 ponto percentual”.
Não há nenhum argumento consistente para o Copom manter a taxa Selic no atual patamar, de 2,25%. Essa é a leitura do economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que espera mais dois cortes de 0,25 ponto da Selic, o que levaria a taxa a 1,75%.
“O único ponto que o comunicado coloca como um risco para a continuidade do corte de juros é o fiscal, variável que poderia elevar o juro estrutural”, explica. “Mas, enquanto a inflação continuar caindo, significa que o juro ainda está longe desse nível estrutural e que, portanto, há espaço de sobra para cortar a Selic novamente.”
Ao deixar a mensagem de que pode adotar cortes residuais da Selic, o Copom deu um passo além do que se esperava, segundo Fabiano Godoi, sócio-fundador da Kairós Capital. Para o gestor, sem saber se os estímulos fiscais dados até aqui para socorrer empresas e famílias vão se limitar a 2020, haveria justificativa para encerrar o ciclo na reunião desta quarta.
“Eu não esperava que o BC fechasse completamente a porta, mas que se mostrasse satisfeito com o grau de estímulo dado até agora. Porém, a sensação que o comunicado passa é que ainda não deram o ciclo por encerrado.”
“Deixaram a porta entreaberta, ou seja, não avisaram que acabou o ciclo de corte, mas deixaram a barra mais alta para ajustes”, diz Mauricio Oreng, economista do Santander Brasil. Para ele, a sinalização do BC é de parada para observar os efeitos da pandemia e como a economia irá se desenvolver.
“A impressão que o comunicado passa é que o Copom quer parar de cortar juros, mas não se trata de vislumbrar uma alta tão cedo. É um cenário que indica a proximidade do fim do ciclo, mas ainda distante de quando esse ciclo começa a ser revertido. É algo que está fora do radar”, diz a economista-chefe da Canvas, Camila Faria Lima.
O economista-chefe da JGP, Fernando Rocha, diz que compreende que o BC está seguindo o seu modelo de meta de inflação, mas que o Copom tem atuado de maneira mecânica, cortando juros porque as projeções para o IPCA seguem baixas.
Mas a deflação observada recentemente é efeito da desova de estoques de bens duráveis, como eletroeletrônicos e artigos de mobiliário, com as empresas vendendo a qualquer preço para levantar capital de giro. Quando tiverem que refazer estoques, terão como referência um câmbio mais alto.
“A inflação é uma bússola, mas não dá para confiar cegamente nisso num período tão atípico. Não tomaria as projeções de inflação ao pé da letra.”
Fonte: Valor Investe