12/05/2020

Um grupo de economistas avalia que a volatilidade do mercado local, que tem sido exacerbada pela política monetária e por riscos fiscais e políticos, pode amplificar as incertezas em um contexto difícil para o país

A disparada do dólar no Brasil — que já supera os R$ 5,80— em um ritmo muito mais intenso que em outros mercados emergentes acende um sinal de alerta entre analistas de mercado sobre as repercussões desse movimento na economia. Mesmo que, no momento, o repasse cambial não seja significativo para a inflação, um grupo de economistas avalia que a volatilidade do mercado local, que tem sido exacerbada pela política monetária e por riscos fiscais e políticos, pode amplificar as incertezas em um contexto difícil para o país.

“Não há um nível mágico para a taxa de câmbio que nos leve a ter ou não preocupação com repasse [para inflação], mas a intensidade da depreciação é preocupante. Mais que o nível, é a velocidade da mudança que preocupa, ainda mais num ambiente de altas incertezas externas e domésticas”, alerta o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski. Para ele, a volatilidade da moeda “dificulta o planejamento dos agentes econômicos e possíveis decisões de investimento que poderiam ajudar a estabilizar o quadro econômico pós-pandemia”.

Ontem, o dólar fechou em alta de 1,33%, aos R$ 5,8192. Com isso, o real acumula desvalorização de 31% em 2020, no que configura a perda mais acentuada entre as divisas com maior negociação no mundo. Para efeito de comparação, o rand sul-africano e o peso mexicano — que compõem o ranking dos piores desempenhos no ano — registram queda menos intensa, de 24% e 21%, respectivamente.

Analistas atribuem parte da depreciação do câmbio à forte queda de juros no Brasil. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu os analistas com um corte mais agressivo que o esperado da Selic. A taxa foi reduzida de 3,75% para 3%, em uma decisão que contou ainda com indicações de mais um movimento de afrouxamento monetário em junho.

“Ainda que o cenário econômico atual justifique uma postura mais ‘dovish’ [expansionista] da autoridade monetária, estamos ficando inquietos com seu impacto na dinâmica do real”, afirmam os estrategistas Gabriel Gersztein e Samuel Castro, do BNP Paribas, em relatório enviado a clientes.

Eles explicam que a estabilidade da moeda é um fator crucial para as condições financeiras e dizem que “um dólar anormalmente forte anda de mãos dadas com contrações de empréstimos bancários transfronteiriços [em dólares americanos] e investimentos de capital”.

Fonte: Valor Investe