02/04/2020

No portfólio de 125 empresas avaliadas, agência de classificação de risco diz que 35 estão mais expostas ao atual cenário e que 30 terão notas revisadas no curto prazo

Nos próximos três meses, várias empresas, de diferentes setores, enfrentarão fortes desafios operacionais diz a Fitch Ratings. Para a agência de classificação de risco, há ainda alto grau de incerteza sobre o impacto da pandemia de coronavírus nos ratings das companhias brasileiras.

A Fitch publicou um relatório dos impactos da pandemia nas empresas de seu portfólio e realizou na manhã de hoje uma conferência virtual com sua equipe de analistas. No portfólio de 125 empresas avaliadas, a Fitch diz que 35 estão mais expostas ao atual cenário desafiador e que 30 terão seus ratings revisados no curto prazo.

Empresas com baixa liquidez representam 23% dos emissores cobertos neste relatório, enquanto 6% estão expostos a setores de elevado risco, 8% apresentam elevado risco cambial; e 16% não possuem espaço para redução do lucro líquido antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).

Segundo Ricardo Carvalho, diretor-executivo da Fitch Ratings, a liquidez é o principal fator de impacto no perfil de crédito das companhias no cenário de crise imposto pela pandemia. Além disso, o relatório destaca que o aumento do custo da dívida será relevante, com prazos mais curtos.

Segundo ele, já pode ser observado custo muito mais alto, mas diversas empresas conseguiram tomar linhas com duração de um ano.

“Até que tenhamos cenário normalizado, a capacidade de financiamento vai ser fundamental para classificações dos ratings. Não vemos ainda posição seletiva dos bancos em prover crédito, mas [provisão de crédito] está sempre vulnerável”, diz Carvalho. Para a Fitch, emissores como Gol, Guararapes, Movida e Tegma enfrentarão maior pressão de liquidez no curto prazo.

Riscos

Sobre a exposição por indústria, os setores de maior risco são: companhias aéreas, jogos, hospedagem e lazer, petróleo e gás, açúcar e álcool. Além dos 6% que operam em indústrias classificadas como de alto risco, 18% das empresas avaliadas estão em setores com exposição acima da média. Setores com exposição moderada representam 20%, enquanto 56% operam em segmentos com exposição gerenciável.

A Fitch identificou 20 emissores sem nenhum espaço para redução do Ebitda, uma vez que suas alavancagens já se encontravam acima dos índices para rebaixamento, e 19 emissores (15% do portfólio) com espaço limitado — aqueles cujo Ebitda poderia declinar somente até 20% antes de alcançarem seus índices de rebaixamento. Outros 24 (19%) emissores possuíam espaço moderado, ou seja, a geração de caixa poderia diminuir de 20% a 50%.

Fonte: Valor Investe