19/01/2020
No entanto, o início do novo ciclo de alta de juros deverá ficar para maio
A reunião de amanhã do Copom será seguida de um reposicionamento em relação ao futuro da taxa básica de juros: a tendência é uma “clara mudança hawkish” no discurso do comitê e uma desistência da recusa de um aperto monetário a qualquer custo.
O movimento conhecido por “hawkish” se refere à uma maior preocupação em conter a inflação em vez de dar estímulos à economia. Nesses casos, a tendência é de aumento de juros. É o oposto do que foi visto no último ciclo de corte de juros, quando a intenção maior da política monetária era estimular a economia por meio de corte de juros, algo conhecido como movimento “dovish”.
“O compromisso de não elevar os juros já durou mais do que a sua utilidade”, escreveu Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING Financial Markets, em relatório.
Segundo Rangel, abandonar o “forward guidance” demandará habilidades retóricas experientes por parte do Banco Central. “Suspeitamos que a autoridade tentará introduzir uma inclinação hawkish sem gerar expectativas de mercado de um ciclo de aperto antecipado e estendido”, diz ele.
Na prática, isso significa uma primeira alta de juros para a reunião de 5 de maio, ao invés da de 17 de março, explica o profissional, citando o ano-calendário de 2022 que ganha peso no horizonte relevante do Banco Central a partir do segundo trimestre.
Além dessa “calibragem retórica”, o ING julga que o BC vai investir em uma normalização monetária “muito gradual”, de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), “o que contrasta com os maiores ajustes precificados na curva de juros local”, que hoje prevê uma Selic a 5% ao fim de 2021. A projeção da instituição financeira, no entanto, é de que a Selic feche o ano em 3,5%.

Para Rangel, é justificável a relutância do BC de elevar o patamar da Selic em meio à avaliação de que a recente aceleração da inflação é produto de um choque muito provavelmente temporário. Além disso, as expectativas para a inflação em 2021 e 2022 estão ancoradas e a economia ainda necessita de um nível de estímulo monetário extraordinário.
“Dito isto, os dados de inflação acima do esperado e o aumento esperado da inflação anual ao longo do primeiro semestre, que pode chegar a 6% até junho, devem dificultar cada vez mais para o banco central resistir a aumentos de juros”, sustenta o economista do banco holandês.
Os impactos do “forward guidance”, por sua vez, foram incertos tanto na formação das expectativas inflacionárias quanto na curva, que permaneceu inclinada, diz Rangel, na análise. De um lado, a “a aparente falta de credibilidade na promessa do banco central de não aumentar a taxa básica de juros” pode ser atribuída ao aumento das incertezas fiscais, mas, de outro, também há um questionamento a respeito da queda dos juros dramaticamente abaixo das mínimas históricas anteriores, o que desencadeou ajustes no câmbio.
“O desempenho do real brasileiro abaixo da média dos pares, que, em grande medida, foi impulsionado pela queda acentuada da taxa de juros observada desde meados de 2019, também se tornou uma fonte crescente de preocupação e, possivelmente, outro importante catalisador para decisões de política”, argumenta o economista.
Fonte: Valor Investe