29/05/2020

A queda na atividade econômica do país, acrescida de uma pandemia mundial, significa que você precisa segurar seus gastos

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 1,5% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de 0,5%. O resultado, no entanto, não foi uma surpresa e veio em linha com as expectativas do mercado. O indicador não mostra, porém, os efeitos do coronavírus de forma tão intensa (já que a pandemia se espalhou pelo Brasil a partir de março), mas pode dar uma ideia do que está por vir.

Segundo especialistas, se uma queda do PIB já é um alerta para que as pessoas “pisem no freio” e sejam mais cuidadosas com as finanças, em meio a uma pandemia, esse alerta se intensifica.

“O número que saiu hoje não pega todo o efeito da pandemia. Mas já era prevista uma queda. No segundo trimestre, que realmente mostrará os meses em que ficamos em casa, essa queda será muito maior”, afirma Alexandre Espírito Santo, economista da Órama e professor do IBMEC-RJ.

Com a necessidade de isolamento social imposta para conter os avanços do coronavírus, inúmeros comércios, fábricas e empresas precisaram paralisar suas atividades. Muitos deles, inclusive, não resistiram à crise e baixaram suas portas permanentemente. E isso se refletirá no PIB dos próximos meses, onde a atividade econômica deve sofrer uma queda drástica.

A consequência disso é uma economia fragilizada. Em um cenário como esse, o desemprego tende a aumentar, já que muitas empresas estão paralisadas e, assim, perdem parte significativa de sua renda e precisam fazer cortes. Com o aumento do desemprego há, também, queda consumo.

Por isso, é um momento em que as pessoas precisam economizar. Adiar compras de bens caros e não fazer dívida são algumas das principais regras nesse cenário.

Segundo Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest, essa mudança no comportamento dos brasileiros já está acontecendo. “As pessoas hoje estão mudando seu consumo, gastando apenas o necessário, elas estão mais receosas”, diz.

O que virá pela frente?

Segundo especialistas, o PIB do segundo trimestre (que reúne os meses de abril, maio e junho) deve ter números ainda piores, já que nos meses de abril e maio a quarentena já era uma realidade para muitos estados brasileiros. E o desemprego, deve crescer.

“Vários empresários esperaram o primeiro mês de quarentena para tomar uma atitude. Porque a ideia inicial era ficarmos um mês isolados. Muitos empregadores deram férias nesse período de abril. Mas aí o funcionário voltou a trabalhar, a quarentena continuou e a renda dessas empresas seguiu caindo. Alguns empregadores mantiveram seus empregados com salário e jornada reduzido, mas pode ser que precisem demitir. Então esse número ainda vai aumentar”, afirma Michael Viriato, coordenador do laboratório de Finanças do Insper.

Ele aposta, no entanto, em uma recuperação começando a partir do terceiro trimestre. “Agora em junho, já devemos ver uma saída gradual da quarentena. Em São Paulo mesmo esse processo já vai começar. Então, a economia vai retomando aos poucos. Imagino que no terceiro trimestre a gente veja um PIB excepcional na comparação trimestral. Mas é importante lembrar que ele só será excepcional porque a comparação será com um trimestre de queda muito forte”, afirma.

Para Espírito Santo, da Órama, a alta do desemprego também é uma realidade. Ele pondera, no entanto, que não se sabe quanto tempo levará para vermos uma recuperação. “Não adianta todo mundo sair da quarentena sem uma parametrização, porque nos arriscamos a ter uma segunda onda. É preciso estabelecer um cronograma de saída”, afirma.

Para ele, a recuperação não será “em V” (termo usado para uma queda muito acentuada, seguida de uma alta também rápida, que ilustrada em um gráfico lembra a letra V). “Na minha concepção está mais como um símbolo da Nike. Uma queda forte e rápida seguida de uma alta, mas mais lenta”, afirma.

Os juros vão cair?

Em um cenário de economia fragilizada, é esperado uma queda nos juros, para estimular o consumo. No Brasil, porém, a Selic já está, há uns bons meses, em seu patamar mais baixo. Esse nível, inclusive, foi renovado na última reunião do Copom, quando a taxa saiu de 3,75% para 3% ao ano. Mas novas quedas são esperadas.

“Já está precificado no mercado mais uma queda da taxa básica de juros. Já estamos vendo deflação na nossa economia. Então, o BC tem chance e espaço de reduzir mais taxa de juros”, afirma Viriato, do Insper. Será, então, hora de consumir mais ou aproveitar os juros mais baixos para fazer um financiamento de um bem como imóvel ou carro? A resposta é não.

Segundo Viriato, mesmo que o Banco Central esteja reduzindo a Selic, os bancos não estão diminuindo suas taxas de juros e bens como imóveis e carros não estão ficando mais baratos. Portanto, a única diferença no cenário são os riscos.

“Os empréstimos continuam com as mesmas taxas e os imóveis também seguem com os mesmos preços. Só que agora você tem mais risco de ficar desempregado. Então, não é um bom momento para financiamentos”, afirma Viriato.

E meus investimentos?

Com juros mais baixos, a renda fixa tende a ter retornos menores, já que o rendimento de muitos desses investimentos é atrelado à taxa Selic. Viriato afirma, no entanto, que os produtos com prazo de vencimento maior continuam com taxas mais atrativas.

“As taxas de juros longas continuam no mesmo patamar de março, abril. Então, não existe uma alteração significativa”, afirma. Ele explica que o que muda de forma mais intensa é o rendimento de títulos que seguem diretamente a Selic, como as Letras Financeiras do Tesouro (LFT), por exemplo.

Ele pondera, no entanto, que é um bom momento para que os investidores diversifiquem sua carteira e tomem mais risco. “Claro que em um momento de juros baixos, a renda fixa já não tem um rendimento tão alto. Então, é um incentivo para o investidor apostar na renda variável e em títulos de prazos maiores. Claro que de acordo com o perfil e objetivos dele”, diz.

Macedo, da Easynest, explica que mesmo com a renda fixa rendendo menos, mais pessoas têm optado por ela, justamente para formar uma reserva de emergência. Segundo o executivo, pesquisas mostram que mais de 90% dos brasileiros não têm reserva para viver mais de quatro meses sem salário.

“Nesse período, ficou evidente que a reserva de emergência é fundamental, percebemos que nas consultas que fazemos muita gente quer saber como montar uma reserva, quais são as características dos títulos usados para isso. Apesar da bolsa ter caído, e ter oportunidades na bolsa, temos visto procura por ativos de renda fixa mesmo com rendimentos mais baixos”, diz.

Fonte: Valor Investe