24/09/2020

Economista-chefe da Occam afirma que o ambiente econômico ainda é favorável para uma inflação baixa

O ambiente econômico ainda bastante favorável a uma inflação baixa, as expectativas de inflação ancoradas e o hiato do produto em níveis bastante abertos devem fazer com que o Banco Central mantenha a Selic inalterada nos atuais 2% ao menos até o fim do próximo ano.

Esse é o cenário básico do economista-chefe da Occam, Paulo Val, para quem o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) é a tradução do hiato do produto por parte do Banco Centrteal.

“O RTI mostra que vamos recuperar um pouco a queda do PIB neste ano em 2021, mas que não será uma recuperação integral. Vamos continuar tendo, ao longo do próximo ano, uma ociosidade grande na economia, embora menor do que a deste ano, o que indica que a política monetária está fazendo efeito e estimulando a economia, embora não seja suficiente para convergir para onde o Banco Central desejaria”, afirma Val.

O cenário-base da Occam contempla um crescimento de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021 e uma inflação de 2,9%.

A gestora carioca ainda adota um cenário alternativo que, de acordo com Val, começou a ganhar força recentemente. Essa visão alternativa abarca uma subida antecipada da inflação em 2021 devido ao risco fiscal e a uma possibilidade de depreciação adicional do câmbio, com repasse nos preços, diante de uma deterioração na percepção fiscal.

Para o economista, “qualquer coisa que coloque em dúvida a sustentabilidade fiscal pode fazer a inflação ganhar força e a própria questão fiscal pode influenciar as expectativas de inflação mais à frente e jogar contra”.

Em relação à retirada dos estímulos econômicos, o que poderia resultar em um abismo fiscal (“fiscal cliff”), Val ressalta que essa é uma grande interrogação em seu cenário.

“O RTI trouxe dois boxes interessantes. Um deles mostra como o auxílio teve impacto no consumo da população mais vulnerável. E há, ainda, a discussão sobre as camadas de renda mais alta poupando mais por ser algo compulsório ou por ser uma questão precaucional diante do medo das pessoas de perderem emprego, mas, quando olhamos para os indicadores de confiança, vemos uma retomada bastante forte.”

Assim, o economista da Occam acredita que o risco de a poupança ser algo permanente tem diminuído. “Se for assim, parte do ‘fiscal cliff’ deveria ser substituída por uma parte do consumo das rendas mais altas que deve voltar”, afirma.

Além disso, Val aponta para o estímulo monetário. Embora lembre que, no auge da crise, a política fiscal tende a ter uma resposta mais rápida, ele aponta que a política monetária cria um ambiente que estimula as pessoas a pouparem menos “e chegaremos no início do ano que vem, onde teremos a retirada dos estímulos fiscais, com uma política monetária mais frouxa”.

Para Val, o quarto trimestre deste ano pode funcionar como um termômetro em relação ao próximo ano, tendo em vista que a diminuição do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300 já deve ter algum efeito na recuperação da atividade econômica.

Em relatório enviado a clientes, os economistas do Citi avaliam que o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado hoje pelo Banco Central, ratifica a visão “relativamente benigna” da autoridade monetária em relação à pressão inflacionária de curto prazo, ao caracterizá-la como impulsionada pelos preços de alimentos e parcialmente compensada por preços no setor de saúde e pela queda do valor da gasolina.

Para eles, o documento comprova a visão de alguns membros do Copom de não sinalizar elevações nos juros no curto e no médio prazo.

O Citi também projeta que a Selic permanecerá inalterada nos atuais 2% até o fim do próximo ano. Para os economistas do banco americano, o RTI confirma a visão de alguns dirigentes do BC de conforto com o atual nível da taxa de juros, apesar de a curva precificar alta de mais de 2 pontos percentuais no juro básico até o fim do próximo ano.

No cenário básico do Citi, a normalização da política monetária deve ter início no primeiro trimestre de 2022, com a Selic chegando a 2,5% em março. O banco americano projeta, ainda, que o IPCA ficará em 3,4% em 2021.

Fonte: Valor Investe