24/06/2021
Entre esses novos clientes, há quem nunca teve uma conta bancária e, por isso, há uma urgência para melhorar a educação dos usuários contra crimes digitais.
Especialistas que participaram de painel sobre cibergurança no Ciab Febraban 2021 nesta sexta-feira, apontaram que os bancos têm avançado nos investimentos em tecnologia para combater crimes virtuais, mas os golpes seguem altos em relação aos clientes mesmo entre aqueles que já detém conhecimento das práticas mais comuns.
Nuno Pires, head de Operações Globais da Feedzai, diz que no último ano o número de contas digitais no Brasil cresceu 650%. Dentre esses novos clientes, há quem nunca teve uma conta bancária e, por isso, há uma urgência para melhorar a educação dos usuários contra crimes digitais.
Rafael Giovanella, gerente-geral da Unidade Estratégica de Segurança Cibernética e Prevenção a Fraudes do Banco do Brasil e diretor Setorial da Comissão Executiva de Segurança Cibernética da Febraban, comenta que 70% dos golpes no sistema financeiro são direcionados para engenharia social.

“Temos exemplos como a entrega de dados bancários, senha, que podem ser feitas de forma involuntária ou não pela pessoa; o falso bilhete de loteria, o falso sequestro por telefone, golpe do motoboy, golpe do Whatsapp. Ou seja, o criminoso sempre cria novas técnicas, mas é quase sempre dentro da engenharia social”, explica.
“Caímos [nos golpes] porque somos humanos e falhamos. Temos a falsa confiança de que estamos seguros no mundo virtual, por estar em casa. Ou muitos não detém conhecimento dos golpes que existem. Por isso, sempre é necessário parar, pensar, respirar e reagir”, diz.
Os demais participantes do painel concordam com essa avaliação. “Os bancos investem na proteção de infraestrutura e aplicativos e os fraudadores sabem disso. Assim, miram no cliente. O comportamento das pessoas as torna o elo mais fraco”, entende Adriano Volpini, diretor de Segurança do Itaú Unibanco e da Comissão Executiva de Prevenção a Fraudes da Febraban.
De acordo com dados divulgados nesta semana pela Febraban, em 2020 as instituições financeiras investiram R$ 2,5 bilhões em cibersegurança, 10% do que foi direcionado no total para tecnologia da informação. “Criminosos são oportunistas. Vão explorar o lado mais fácil. Com a maior inclusão digital, devido principalmente à pandemia, esses novos clientes não vieram com cultura de segurança e precisamos trabalha nisso”, avalia Erik Siqueira, agente da Polícia Federal.
Siqueira destacou que os avanços já realizados no combate incluem acordos e parcerias de cooperação entre as instituições e as polícias e a entrada em vigor da lei 14.155, que altera o Código Penal brasileiro para agravar penas como invasão de dispositivo, furto qualificado e estelionato praticados em meio digital, além de crimes cometidos com o uso de informação fornecidas por alguém induzido ao erro pelas redes sociais, contatos telefônicos, mensagem ou e-mail fraudulento.
“Ela acaba de vez com a visão romantizada do fraudador cibernético e leva em conta os danos para o cidadão, inclusive emocionais. Mas podemos melhorar ainda mais. Quando a pessoa é vítima, ela espera a reação rápida da polícia e temos um processo burocrático nisso”, analisa.
Volpini e Giovanella disseram ainda que os bancos devem seguir a investir neste combate na casa dos bilhões, o que inclui novas formas de autenticação do usuário, como biometrias comportamentais. Ambos concordam que parcerias e acordos de cooperação com o estado e entre as instituições também são importantes neste combate e continuarão também a investir em educação e conscientização em relação a seus clientes.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor InvesteBancos investem em cibersegurança, mas cliente é alvo