12/05/2020

Na ata divulgada na manhã desta terça-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que pode repetir na próxima reunião, em junho, o corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros

O Comitê de Política Monetária (Copom) reforçou que pode repetir na próxima reunião, em junho, o corte de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros realizado na semana passada. A Selic foi para 3% ao ano. A concretização desse cenário, entretanto, depende do quadro fiscal e da conjuntura econômica como um todo.

“Para a próxima reunião, condicional ao cenário fiscal e à conjuntura econômica, o Comitê considera um último ajuste, não maior do que o atual, para complementar o grau de estímulo necessário como reação às consequências econômicas da pandemia da covid-19”, diz o colegiado na ata divulgada na manhã desta terça-feira, referente à reunião da semana passada.

O balanço de riscos para a inflação, no entanto, está mais incerto, segundo o Copom. Por isso, “novas informações sobre os efeitos da pandemia, assim como uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, serão essenciais para definir seus próximos passos”.

Expectativas de inflação

Diversas medidas de inflação subjacente, mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, estão abaixo dos níveis compatíveis com o cumprimeiro da meta de inflação no horizonte relevante, reforçou nesta terça-feira o Copom.

Na ata referente à sua última reunião, o colegiado reitera que a pandemia “está provocando uma desaceleração significativa do crescimento global, queda nos preços das commodities e aumento da volatilidade nos preços de ativos”.

“Nesse contexto, apesar da provisão adicional de estímulos fiscal e monetário pelas principais economias, e de alguma moderação na volatilidade dos ativos financeiros, o ambiente para as economias emergentes segue desafiador, com saída de capitais significativamente superior à de episódios anteriores”, diz o Copom.

No cenário interno, indicadores referentes a abril “mostram que a contração da atividade econômica será significativamente superior à prevista” na reunião anterior, realizada em março.

O colegiado também reforça que, na sua percepção, o corte de 0,75 ponto percentual na Selic realizado na semana passada reflete um cenário básico e um balanço de riscos “de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva”.A decisão foi considerada compatível com a convergência da inflação para a meta de 3,75% estabelecida para 2021, considerado o horizonte relevante para a política monetária.

O Copom também volta a fazer alertas a respeito dos riscos de uma possível deterioração fiscal. “Perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia”, disse. “Questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.”

Por fim, o colegiado reitera que, na sua avaliação, a conjuntura atual “prescreve estímulo monetário extraordinariamente elevado”, mas diz também “que há potenciais limitações para o grau de ajuste adicional”.

“A trajetória fiscal ao longo do próximo ano, assim como a percepção sobre sua sustentabilidade, serão decisivas para determinar o prolongamento do estímulo”, afirma.

Balanço de riscos

O Copom reafirma, em ata divulgada nesta manhã, que o seu balanço de riscos para a inflação engloba riscos em ambas direções. Segundo o BC, o balanço tem variância maior do que a usual.

O documento reproduz o risco baixista que havia sido informado em comunicado na semana passada: “Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado. Esse risco se intensifica caso a pandemia provoque aumentos de incerteza e de poupança precaucional e, consequentemente, uma redução da demanda agregada com magnitude ou duração ainda maiores do que as estimadas”.

O risco do lado altista para a inflação, reproduzido na ata, é que “políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco e gerar uma trajetória para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária”.

Recessão global

O Copom afirma que as projeções apontam para uma recessão global com poucos precedentes históricos — e os países emergentes com maior vulnerabilidade fiscal tendem a ser os mais prejudicados.

“Com relação à economia global, o Comitê entende que, assim como em outras crises internacionais, o aumento da aversão ao risco e a consequente realocação de ativos tornam o ambiente desafiador para os países emergentes”, afirma o documento.

“Em contraste com outras crises mais recentes, em que o epicentro estava localizado no Hemisfério Norte, nessa ele se desloca para todos os países, juntamente com a pandemia”, segue a ata. “Além disso, projeções apontam para uma recessão global com poucos precedentes históricos.”

Segundo o documento, esses dois fatores ajudam a explicar uma saída de capitais de países emergentes significativamente superior à ocorrida em episódios anteriores. “Entre os emergentes, aqueles com maior vulnerabilidade fiscal tendem a ser os mais prejudicados”, conclui.

Recuperação gradual

A recuperação da economia brasileira deve ser gradual e com idas e vindas, a não ser que haja avanços médicos no combate à pandemia, afirmou o Copom. “É plausível um cenário em que a retomada, além de mais gradual do que a considerada, seja caraterizada por idas e vindas”, disse.

Para o Copom, “embora haja poucos dados disponíveis para o mês de abril, há evidência suficiente de que a economia sofrerá forte contração no segundo trimestre deste ano”. O cenário básico do colegiado é de uma “forte queda” do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro semestre, seguido de uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre.

Na ata, o comitê também reafirma “sua opinião de que o impacto da pandemia sobre a economia brasileira será desinflacionário e associado a forte aumento do nível de ociosidade dos fatores de produção”.

“A alevação abrupta da incerteza sobre a economia deve resultar em aumento da poupança precaucional e consequente redução significativa da demanda agregada”, disse.

Meta de inflação

O Copom reforçou que o principal objetivo da política monetária é o cumprimento das metas de inflação. O Conselho Monetário Nacional (CMN) estabeleceu como metas para este e para o próximo ano inflação de 4% e 3,75%, respectivamente.

“O Comitê reafirma seu compromisso com a meta para a inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, que sempre foi e segue sendo o principal objetivo da política monetária”, disse na ata.

No documento, o colegiado reconhece que “o choque desinflacionário de demanda

[causado pela pandemia]

, ainda que associado a maior fragilidade fiscal, iniciou um processo de revisão para baixo nas expectativas de inflação, para níveis não compatíveis com as metas, em particular para o horizonte relevante da política monetária”.

Esse movimento, segundo o Copom, aparece tanto nas expectativas coletadas pela Pesquisa Focus, do Banco Central (BC), quanto pelas expectativas implícitas nos títulos públicos.

Juro estrutural

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central refletiu, na reunião realizada na semana passada, sobre a taxa de juros estrutural da economia e sobre uma possível alteração no caráter permanente de sua queda.

“Finalmente, refletiu-se sobre a taxa de juros estrutural da economia, que, na avaliação do Comitê, também espelha as expectativas dos agentes sobre a trajetória fiscal prospectiva”, diz a ata da reunião.

“Para o Copom, a interação da deterioração do cenário externo com frustrações em relação à continuidade das reformas e possíveis alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas pode ameaçar o processo de queda dos juros estruturais.”

Limite para juro

O Copom discutiu, em reunião na semana passada, a “potencial existência de um limite efetivo mínimo para a taxa básica de juros brasileira”.

“A maioria dos membros ponderou que o limite seria significativamente maior em economias emergentes do que em países desenvolvidos, devido à presença de um prêmio de risco”, diz o documento. “Foi ressaltado que esse prêmio tende a ser maior no Brasil, dadas a sua relativa fragilidade fiscal e as incertezas quanto à sua trajetória fiscal prospectiva.”

Segundo essas ponderações, “nesse contexto, já estaríamos próximos do nível onde reduções adicionais na taxa de juros poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos mercados financeiros e nos preços de ativos”.

Nessas discussões, afirma, um membro argumentou “que, em princípio, não há razão para a existência de tal limite mínimo operacional, já que os tradicionais canais da política monetária continuariam operantes, sem descontinuidades, embora, possivelmente, com um aumento do efeito de variações da taxa de juros básica sobre os preços de ativos financeiros”.

Segundo a ata, o comitê como um todo reconheceu a importância de gradualismo na condução da política monetária para avaliação da resposta dos preços de ativos financeiros.

Estímulo imediato

A ata do Copom reitera que dois dos membros do colegiado “ponderaram que, mesmo com a possibilidade de elevação da taxa de juros estrutural, poderia ser oportuno prover todo o estímulo necessário de imediato, em conjunto com a sinalização de manutenção da taxa básica de juros pelos próximos meses, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento da meta para a inflação de 2021”.

O documento diz, mais uma vez — repetindo o que havia sido dito no comunicado — que foi preponderante a avaliação de que, frente à conjuntura de elevada incerteza doméstica, o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e pode ser pequeno.

“Assim, o Copom optou por uma provisão de estímulo mais moderada, com o benefício de acumular mais informação até sua próxima reunião” diz a ata do Copom.

Fonte: Valor Investe