25/03/2021
Projeção anterior para o período era de expansão de 3,8% para atividade econômica e agora é de 3,6%
O Banco Central revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano de 3,8% para 3,6%, conforme divulgado há pouco no Relatório de Inflação (RI) de março.
“A relativa estabilidade na projeção reflete, de um lado, o carregamento estatístico para o PIB anual maior do que o esperado, resultante da surpresa positiva do PIB no quarto trimestre de 2020, e a manutenção da atividade econômica em nível elevado no início de 2021, e, de outro, o recrudescimento recente da pandemia”, explicou o BC no documento.
A autoridade monetária observou que o seu Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) continuou crescendo em janeiro e disse que indicadores mais tempestivos não sugerem recuo expressivo da atividade econômica em fevereiro.
Ainda assim, ponderou que a incerteza segue acima da usual sobre o ritmo de crescimento da economia, derivada tanto da evolução da pandemia como da resposta de governantes, empresas e da população em geral à crise sanitária.
A projeção do BC para 2021 inclui recuo moderado ao longo do primeiro semestre, seguido de “recuperação relevante” nos últimos dois trimestres do ano, decorrente da redução esperada na taxa de letalidade da covid-19 e no número de internações, com o avanço da vacinação, diz o relatório.

“Essa projeção considera manutenção do regime fiscal e nova rodada de auxílio emergencial, de aproximadamente R$ 44 bilhões, com pagamentos concentrados no segundo trimestre do ano. Supõe-se ainda que o cronograma anunciado de vacinação será seguido sem desvios acentuados e que as novas variantes de atenção do vírus não afetarão de modo significativo os resultados da campanha de vacinação.”
Embora a projeção para o crescimento do PIB total tenha se alterado pouco desde o último RI, houve mudanças relevantes em sua composição.
No âmbito da oferta, o BC melhorou o prognóstico para a indústria e piorou para serviços. A elevação na indústria, de 5,1% para 6,4%, reflete, principalmente, a melhora na previsão para a indústria de transformação, em parte explicada por carregamento estatístico mais favorável do que o esperado antes da divulgação das Contas Nacionais Trimestrais (CNT) para o quarto trimestre de 2020.
“Adicionalmente, o desempenho da indústria de transformação deve ser favorecido pela produção de bens para recomposição de estoques, que ainda se encontram em patamares reduzidos, pela nova rodada de auxílio emergencial, que ajudará a preservar o poder de compra das famílias de renda mais baixa, e pelo atraso esperado na normalização
dos gastos com serviços na cesta de consumo das famílias em razão do recrudescimento da pandemia, com possível deslocamento desses gastos para maior consumo de bens”, diz o relatório.
No sentido oposto, acrescenta o BC, a redução na projeção de crescimento da construção repercute menor carregamento estatístico decorrente da surpresa negativa ocorrida no quarto trimestre de 2020. “Ao longo de 2021 o setor da construção, em especial o segmento imobiliário, deve se beneficiar do ambiente de juros historicamente baixos, embora ainda deva continuar sendo afetado temporariamente por escassez e preços elevados de insumos.”
Já os serviços deverão crescer 2,8% em 2021, ante previsão de 3,8% apresentada no Relatório de Inflação anterior.
A revisão, segundo o BC, decorre, principalmente, da intensificação da pandemia, que deverá prejudicar o processo de normalização da prestação de serviços, em particular daqueles mais diretamente relacionados com mobilidade e contato social — como transportes, armazenagem e correio; e outros serviços, que inclui atividades como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas —, especialmente na primeira metade do ano.
A projeção para a agropecuária manteve-se praticamente estável, com crescimento de 2%, diante de expectativa favorável para a safra de grãos.
Com relação aos componentes domésticos da demanda agregada, houve ligeira alta na previsão para o consumo das famílias (de 3,2% para 3,5%), também refletindo elevação do carregamento estatístico após resultado melhor do que o esperado no quarto trimestre de 2020.
Apesar da pequena alteração no prognóstico de crescimento do consumo das famílias, a autoridade monetária diz esperar evolução distinta para a sua composição, com maior participação de bens do que anteriormente antecipado.
No caso do consumo do governo, o BC avalia que o recrudescimento da crise sanitária deve afetar a trajetória de normalização da prestação de serviços de saúde e educação públicas, especialmente na primeira metade do ano, o que motivou a redução na previsão de crescimento de 3,1% para 1,2%.
Em relação aos investimentos, o principal fator para a mudança na projeção (de 3,5% para 5,1%) foram as importações de equipamentos para a indústria de petróleo e gás, no âmbito do programa Repetro, ocorridas no primeiro trimestre de 2021, em montante acima do esperado no relatório anterior.
Por fim, as exportações e as importações de bens e serviços devem crescer, na ordem, 5,8% e 5,4% em 2021, ante projeções respectivas de 6,1% e 2,6% apresentadas no RI anterior.
“A relativa estabilidade no crescimento esperado para as exportações repercute ligeira melhora na projeção para o embarque de bens – em linha com escoamento da safra de soja e a retomada da demanda internacional em ambiente de recuperação global – e redução na estimativa para exportação de serviços”, diz o BC.
A despeito da taxa de câmbio mais alta, prossegue o relatório, a elevação na previsão para as importações reflete as compras de equipamentos para a indústria de petróleo e gás e expectativa mais favorável para indústria de transformação, com efeitos sobre a importação de bens intermediários.
“Tendo em vista os crescimentos estimados para os componentes da demanda agregada, as contribuições da demanda interna e do setor externo para a evolução do PIB em 2021 são de 3,4 pontos percentuais (p.p.) e 0,2 p.p., respectivamente”, conclui o BC.
Fonte: Valor Investe