30/04/2020

Em um momento de grande incerteza nos mercados globais, o Banco Central precisa conduzir a política monetária com mais cuidados, avaliam economistas

Em um momento de grande incerteza nos mercados globais, o Banco Central precisa conduzir a política monetária com cuidados que vão muito além do cumprimento das metas de inflação, na avaliação de um grupo de economistas.

Eles reconhecem que, se considerado apenas esse elemento, sobraria espaço para derrubar a taxa básica de juros para níveis cada vez mais próximos de zero. No entanto, os riscos de um descontrole do câmbio, de uma fuga de capitais e mesmo de surpresas no campo fiscal deixam claro que a Selic não pode entrar em queda livre.

Conforme disse o ex-presidente do Banco Central e chairman do conselho do Credit Suisse no Brasil, Ilan Goldfajn, o regime de metas de inflação não significa que este seja o único fator a ser considerado nas decisões de política monetária.

O cenário para a atividade, projeções de curto e médio prazo assim como o nível do juro neutro da economia, que é bastante influenciado pela perspectiva fiscal, são todos considerados pela autoridade monetária, junto com os próprios dados de inflação.

Em evento on-line na terça-feira, Ilan destacou a cautela necessária para ajustar o patamar da Selic sem perder o controle do equilíbrio externo. “Se a gente exagerar muito na redução dos juros, podemos ter uma depreciação desordenada [do câmbio] e uma perda da âncora da moeda”, disse o ex-presidente do BC. “Não podemos acreditar que temos a mesma moeda, a mesma credibilidade e o mesmo juro que é pago lá fora”, acrescentou.

Ele explicou que o juro interno precisa remunerar as taxas externas mais o risco país. E, nessa conta, a peça chave para conciliar o externo com o quadro local é justamente o câmbio. Ou seja, a queda da Selic precisa vir acompanhada de uma depreciação do câmbio, de modo que os ativos brasileiros se mantenham atrativos, em dólares, para os investidores globais.

Vale destacar que a discussão aqui gira em torno da magnitude de uma redução de juros — não uma alta de taxas, como aconteceu no passado, para evitar a debandada de recursos.

Fonte: Valor Investe