04/03/2022
A economia brasileira, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), avançou 4,6% em 2021 em comparação ao ano anterior, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (4). O indicador ficou levemente acima da expectativa mediana das consultorias e instituições financeiras coletada pelo Valor Data, de 4,5% . As previsões variaram de 4,3% a 4,8%.
Os economistas afirmam que o crescimento aconteceu porque 2020 foi um ano muito ruim para a atividade econômica, devido à pandemia. Com auxílio emergencial e vacina, as pessoas conseguiram ir para a rua e consumir de novo. Apesar desse ser um dado do passado, o índice um pouco mais forte que o previsto no ano passado deve levar alguns profissionais a melhorarem as previsões para a economia em 2022, de acordo com Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Com a confiança maior, o desemprego deve continuar caindo, especialmente no setor de serviços, que se beneficia da pandemia mais próxima do final, na análise dele. Contudo, a renda das pessoas deve continuar apertada pela inflação mais alta do que a projetada, com a guerra na Ucrânia aumentando os custos das companhias, devido ao aumento dos preços das commodities e à logística de transporte dificultada.
Com a inflação mais alta, o Banco Central tende a elevar os juros acima do esperado para controlá-la. A disparada dos juros futuros após ao Carnaval já indica que a Selic, taxa básica de juros da economia, pode atingir 13,5% ao ano.
“Está cada vez mais difícil imaginar que o Banco Central corte juros neste ano, como o mercado imaginava no começo de janeiro. A guerra na Ucrânia vai afetar os brasileiros, com a inflação pressionando os alimentos e o combustível. O pão da dona Maria vai ficar mais caro”, diz Cruz.
Alexsandro Nishimura, economista, chefe de conteúdo e sócio da BRA, afirma que ainda não dá para dizer que esta ano vai ser melhor para a economia. A expectativa ainda é de estabilidade ou de leve crescimento do PIB em 2022, devido ao combinado de guerra, inflação, juros, pandemia e eleição. “Ainda existe grande incerteza de como a guerra vai impactar a economia do mundo e do Brasil”, diz.
Nesse cenário, ele aconselha que as pessoas mantenham em dia o planejamento financeiro, ou seja, saibam exatamente quando ganham e gastam, e evitem dívidas com a previsão de alta de juros.
Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor, avalia que a guerra na Ucrânia deve abalar a confiança dos empresários, que já estava em baixa, com o Congresso e o governo desagradando ao driblar o teto de gastos. Na análise dele, o desemprego deve continuar alto e a inflação deve seguir pressionando a renda.
“Quem está com a renda comprometida deve organizar ainda mais o orçamento agora. Guardar dinheiro é muito difícil para a maioria da população neste momento, mas recomento cortar onde der e evitar gastos a todo custo”, sugere.
Viriato afirma que não é uma boa hora para financiar carro ou imóvel, porque os juros estão muito altos. “Quem tem emprego e renda deve aproveitar agora para investir em renda fixa”, aconselha.
Proteja-se nos títulos atrelados à inflação
Embora a bolsa ainda tenha oportunidades, segundo alguns especialistas, ela tende a perder atratividade, enquanto os investimentos de renda fixa chamarão cada vez mais atenção com a alta de juros.
Nesse cenário, títulos mais recomendados são os atrelados à inflação, que remuneram o IPCA mais uma taxa prefixada, conforme estrategistas. Esses papéis protegem as pessoas do aumento dos preços e ainda pagam uma taxa prefixada, que está cada vez mais alta por causa da expectativa de juros maiores. Contudo, é preciso alinhar o prazo de vencimento do título com os objetivos, porque quem resgata antes corre o risco de perder dinheiro.
Já quem precisa conseguir sacar a qualquer momento acha bons retornos em títulos atrelados à Selic, como o Tesouro Selic, ou ao CDI, como CDBs. Os CDBs de bancos médios e pequenos podem pagar um pouco a mais. Os especialistas indicam diversificar os investimentos para calibrar os riscos.
BY ALEXSANDER QUEIROZ SILVA
Fonte: Valor Investe