Em novembro de 2018, a CVM realizou, na cidade de São Paulo, a IEC – Conferência de Ciências Comportamentais e Educação do Investidor. Este evento anual traz uma série de palestras sobre estudos comportamentais e educação financeira a fim de aprimorar as ações de proteção e orientação do investidor brasileiro e discutir novas formas de incentivar a formação de poupança no país.
Bianca Checon, Doutora em Ciências Contábeis, apresentou alguns dos principais resultados da sua excelente tese – “Atenção limitada, o uso da informação contábil e seus impactos na tomada de decisão de investimento individual” (título em português).
A demonstração contábil de uma empresa é fundamental tanto para governança da própria instituição, quanto para o investidor que utiliza essa informação para tomar decisões de investimentos. Com isso, a apresentação contábil tradicional consegue de forma prática apresentar análises verticais (como montante total para contas materiais) e análises horizontais (como comparação entre anos e cálculo de índices), resultando em uma história sucinta do que ocorreu com a empresa durante o ano fiscal.
Entretanto, a pesquisadora percebeu que para a análise dessas informações o investidor necessita ter um conhecimento contábil prévio e experiência anterior de investimento, afastando, assim, outros investidores em potencial.
Além disso, segundo Simon (1955), Hirshleifer & Teoh (2003), Peng& Xiong (2006), Loewenstein, Sustein& Golman (2014) o ser humano possui restrições cognitivas em processar altas cargas de informações e, no mundo atual, a quantidade de dados cresce de forma exponencial. Deste modo, o número de fontes informacionais é cada vez mais alto, criando um nível de confiabilidade cada vez mais complicado de elaborar.
Assim, no experimento realizado pela pesquisa, alguns investidores prospectivos foram desafiados com algumas tarefas de investimentos fictícias, sendo apresentados a dois tipos de informações contábeis: tabelas e notas explicativas (formato tradicional) e relatório narrativo (no formato narrativo, as demonstrações e balanços patrimoniais são postos não em formas de tabelas, mas compilados em um texto explicativo, como uma redação), e foi analisada a performance financeira classificada em “boa” ou “má”.O método de análise utilizado foi a regressão logística utilizando como constantes a propensão ao investimento.
As principais conclusões encontradas foram:
§ Na média, o formato de apresentação não impacta a propensão de investimento independentemente da performance financeira.
§ O formato narrativo ajuda investidores com menos experiência em mercado de capitais (investidores com menos de cinco anos de mercado), já que o formato narrativo possui menor carga cognitiva requisitada e maior facilidade na identificação da performance financeira negativa da empresa estudada pelo investidor.
Fonte: CVM