08/05/2020

A ansiedade, causada por acharmos que sempre estamos deixando o bonde passar, pode nos levar a tomar decisões erradas na nossa vida financeira.

Comecei a trabalhar no mercado financeiro em 1994. Poucos meses depois do Plano Real. Não foi meu primeiro emprego, mas foi o início de uma carreira. Ainda estava na faculdade de Comunicação Social, e o mundo dos investimentos nunca havia passado, até então, nem de longe na minha vida. Mas bastaram poucas semanas para a nova aprendiz se apaixonar por esse universo tão vasto e infinito.

De lá pra cá, não faltaram aprendizados, descobertas, momentos de euforia, piores momentos, melhores momentos, crises. Presenciei de tudo um pouco. Taxa de juro alta, taxa de juro baixa, dólar um para um, dólar a R$ 5,50. PIB negativo, positivo, inflação nas alturas e próximas de zero, bolsa no vale a 6.472 pontos (no dia 31 de agosto 1998) e no pico a 115.645 pontos (em 30 de dezembro de 2019). Seria possível, portanto, olhar a história, e em um efeito autópsia, identificar os melhores e piores momentos desse mercado, e apontar precisamente a melhor hora de entrar e sair de um investimento. Boas histórias pra contar.

A questão é que raramente a história se repete. E se isso, porventura acontece, nunca é no “timing” e na cadência exatos do passado. Se isso fosse possível, posso afirmar que na minha jornada de mais de um quarto de século nesse mundo, não seria tola em deixar passar nenhuma oportunidade dessas sequer.

E precisar o exato melhor momento para começar a investir – seja em bolsa ou em qualquer outro ativo – é uma tarefa inglória para qualquer um. Seja um profissional da área ou um investidor que pensa em preservar aquilo que conquistou.

Na minha primeira coluna aqui no Valor Investe, trouxe uma reflexão sobre o verdadeiro objetivo dos investimentos. Com o título: “Você não será rico investindo. Você será livre”, ela foi publicada muito antes dessa crise, e nela já chamava atenção para o verdadeiro papel dos investimentos na vida das pessoas, e de como a ansiedade, causada por acharmos que sempre estamos deixando o bonde passar, pode nos levar a tomar decisões erradas na nossa vida financeira.

A verdade é que não há como identificar o melhor momento para investir. Até mesmo para um especulador. Se você, assim como eu, não se enquadra nessa categoria, o caminho é focar no objetivo que se tem, e buscar o investimento mais adequado para ele, que pode ser ou não o mercado de ações.

Em momentos como o que estamos presenciando, a cautela é a palavra de ordem. No mundo dos investimentos não se erra e nem se acerta sempre. Nem nas crises, nem fora delas A gestão mais eficiente dos investimentos pessoais é aquela que considera objetivos, prazo e disponibilidade para se investir e, principalmente, a tolerância a perda de cada um. Fora isso, são só histórias que poderão ser contatas no próximo quarto de século.

Fonte: Valor Investe