06/05/2020
Ibovespa teve perdas no mês de maio 9 vezes nos últimos 11 anos e neste ano pandemia pode ser o principal ingrediente para a profecia autorrealizável ocorrer mais uma vez

Todo início de mês de maio o velho ditado dos mercados financeiros volta a ser lembrado: “sell in May and go away” (venda em maio e vá embora).
Nunca ouviu falar nessa frase? Ela é famosa especialmente entre investidores americanos, e refere-se à estratégia de vender suas ações em maio e voltar às compras só em novembro.
E como começou essa superstição? É em maio que começam as férias de verão no Hemisfério Norte.
Assim, uma das explicações comuns é a de que o estrangeiro se desfaz de seus papéis para curtir as férias tranquilamente, sem se preocupar com o sobe e desce do mercado.
“Quedas nos meses de maio acontecem, mas nos outros meses também”, pondera Ana Silvia Junqueira, sócia e responsável pela relação com investidores da Cardinal Partners.
muns é a de que o estrangeiro se desfaz de seus papéis para curtir as férias tranquilamente, sem se preocupar com o sobe e desce do mercado.
“Quedas nos meses de maio acontecem, mas nos outros meses também”, pondera Ana Silvia Junqueira, sócia e responsável pela relação com investidores da Cardinal Partners.
Coincidência ou “maldição”, maio é historicamente um mês ruim para os negócios na bolsa. O Ibovespa registrou perdas no mês de maio em 9 vezes nos últimos 11 anos.
“Qualquer analista financeiro, quando quer justificar seu pensamento, usa a matemática. Na média, as perdas em maio são de 5,7% desde 2009. A estatística acabou reforçando essa tese de que o investidor deve ter uma postura mais conservadora em maio”, diz Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos.
Repare que em 2019 a “maldição” não pegou o mês de maio por muito pouco. Mas o que espera os investidores em maio de 2020?
Para começar, os especialistas ouvidos pelo Valor Investe recomendam deixar superstições de lado, mas incluir outro ditado no cardápio: cautela – assim como canja de galinha – não faze mal a ninguém.
“Maio começa com volatilidade, com investidores ponderando se a alta do mês anterior faz sentido em um cenário instável e com possibilidade de uma segunda onda de contaminação por coronavírus. Estamos no meio da temporada de balanços e com incertezas. É um mês para o investidor ser conservador e ter cautela”, diz Villegas.
Como o mercado financeiro é movido por expectativas, um dos principais pontos de atenção deve ser os relaxamentos do isolamento social que começam a ser adotados por algumas cidades na Europa, Austrália e Estados Unidos.
Quanto mais rápido a vida voltar a correr próximo da normalidade, mais rapidamente ocorrerá a recuperação de indústrias, serviços e comércios. Com isso, empresas voltam a lucrar e suas ações a subir.
A perspectiva de retomada lá fora ajuda a calcular quando a economia brasileira também poderá voltar ao seu ritmo.
“Essa é a nata da informação que o mercado busca. A grande pergunta é quando as quarentenas vão terminar. Qualquer notícia que passe para o mercado uma estimativa de data para o fim de quarentena poderá definir preços na bolsa”, diz Villegas.
Informações sobre avanços em pesquisas sobre tratamentos e vacinas contra a covid-19 também estão entre os “itens de primeira necessidade” para o investidor.
Na sequência estão os dados macroeconômicos que mostram os impactos econômicos da pandemia até aqui, no Brasil e no mundo, e indicadores antecedentes que ajudem a calcular os reflexos que o novo coronavírus ainda terá nos próximos meses.
No campo político, voltou a ganhar força o embate entre China e Estados Unidos e essa “briga” pode azedar maio, como já fez no primeiro pregão do mês por aqui.
A escalada nas tensões entre os dois países ocorre pela acusação do governo de Donald Trump de que a China encobriu a extensão do novo coronavírus no país e o nível de contágio da doença enquanto acumulava suprimentos médicos necessários para lidar com a pandemia.
No Brasil, a crise deflagrada pelo pedido de demissão de Sergio Moro, então ministro da Justiça, fez aumentar as dúvidas sobre a capacidade política do Planalto para diminuir os impactos da contração econômica em meio à pandemia.
Em seu discurso de demissão, Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir em investigações da Polícia Federal e a veracidade das afirmações estão sendo apuradas. Assim, o episódio traz ainda mais incertezas ao investidor. “A política pode sobressair a questão macroeconômica global”, alerta Villegas.
Não pense SÓ em maio
Rafael Panonko, chefe de análise da Toro Investimentos, é mais um que não acredita em estigmas como o “sell in may and go away”.
“Tento andar conforme o mercado vai mostrando as suas faces”, disse ele no último Abrindo os Trabalhos, live semanal do Valor Investe.
Contra eventuais pressões de baixas em maio, ou seja lá em qualquer mês, Panonko relembra duas premissas básicas.
Primeiro, ter visão de longo prazo. O que não significa, segundo ele, montar uma alocação e esquecer, deixar para ver o que acontece só daqui a muito tempo. Com isso, Panonko mostra que não acredita também em outro clássico, a estratégia “buy and hold”.
“Digo isso em relação à expectativa de retorno. Você deve aplicar em ações aquele dinheiro de que não deve precisar no curto prazo”, diz.
Em segundo lugar, e aí sim se rendendo a um jargão tradicional, Panonko alerta para investidores não colocarem nunca “todos os ovos na mesma cesta”.
“Você não pode ter ações de uma, duas, três empresas, tem que fazer diversificação setorial”, recomenda, relembrando o beabá do mercado, que nunca é demais repetir. “E tem que ter renda fixa e investimentos de liquidez para uma reserva de emergência”, complementa.
Ana Silvia Junqueira, da Cardinal, também convidada dessa semana do Abrindo os Trabalhos, fez coro às palavras de Panonko e disse que, além de focar num horizonte maior de retorno, a diversificação funciona como espécie de “calmante” para o investidor, caso a pressão de baixa se confirme ao longo de maio – e de qualquer outro período.
“O pânico acontece quando se coloca todo seu dinheiro em ações”, diz. Fugir dessa armadilha, diz, é um primeiro passo para não se abater, caso maio de 2020 repita a sina de perdas. “Se o mito se confirmar, o investidor estará mais preparado para poder ir às compras”.
Estrangeiros em fuga
Qualquer sinal de incerteza maior para os emergentes do que para os países desenvolvidos, é sinal verde para fuga – ainda maior – dos investidores estrangeiros da bolsa brasileira.
“Quem está alocado em Brasil é investidor de curto prazo e esse investidor estará muito de olho no noticiário. Se houver expectativa de piora por aqui, ele não está preso a nada”, afirma Villegas.
Os investidores estrangeiros fizeram saque líquido de R$ 5,07 bilhões do segmento secundário da B3 (ações já listadas), em abril, segundo dados divulgados pela B3.
A saída em 2020 já é de R$ 69,41 bilhões, no pior movimento da série histórica da B3 iniciada em 1994.
Queda pode ser promoção?
Ana Silvia Junqueira convida o investidor a ver o copo “meio cheio” e afirma que as recentes perdas que eventualmente se repetirem em maio podem ser vistas não como uma maldição, mas uma oportunidade.
Na prática, ter ou não medo perder dinheiro nas bolsas ao longo deste mês, parece ser mais uma questão de mudar de perspectiva.
“Geralmente, o mês de maio é visto na Cardinal como uma oportunidade de compra, se começam a cair demais ações de empresas que não têm fundamento para isso, a gente compra”, diz.
O Valor Investe já te mostrou aqui as ações que estão baratas e que as empresas ainda guardam bons fundamentos. Você ainda encontra na editoria Hora de Investir várias dicas para te ajudar a tomar as melhores decisões de investimentos, além da Carteira Valor para maio.
Lembre-se que qualquer que seja o destino que maio reserva aos mercados financeiros, o desempenho de sua carteira de investimentos não será definido pelo o que você fez em apenas em um mês. Pense – e invista – para o longo prazo.
Fonte: Valor Investe