Dentre os possíveis erros sistemáticos no momento da decisão – chamados de vieses – , há aquele conhecido pela tomada de decisão por inércia, ou o viés do Status Quo (status quo bias). Ou seja, é a nossa tendência a manter as coisas como estão, mesmo que mudar possa ter melhores resultados.
Imagine, por exemplo, que seu pai tenha feito uma previdência em seu nome quando você nasceu e que por muitos anos esse dinheiro está lá investido. Você cresceu, o tempo passou, mas aquele dinheiro continua lá, confortavelmente acomodado numa aplicação, com uma rentabilidade abaixo do que poderia ter em produtos semelhantes.
Decisões por inércia acontecem nos mais diversos aspectos da vida: profissional, amorosa, cuidados pessoais e, também, relacionadas às decisões financeiras. Cursos sobre finanças pessoais e consultorias financeiras nos ajudam a sair da inercia, mas e se um robô de apoio às decisões financeiras pudesse nos ajudar?
O surgimento dos robôs de investimentos revolucionou o mercado financeiro. A capacidade de processar informações numa dimensão sobre-humana, a rapidez de decisão e, na maioria das vezes, um grau de acerto consistente pôs em evidência essa ferramenta composta por algoritmos e bytes.
A pesquisa de Dominik Jung[1] criou um robo-advisor (robô-consultor) para avaliar se o investidor tomaria menos decisões por inércia, usando dois tipos de ferramentas de arquitetura de escolha: opções padrão (defaults) e avisos.
Os resultados demonstraram que nos grupos expostos a esses robôs, tanto naqueles que recebiam a opção padrão, quanto os que recebiam alertas, tiveram menos decisões por inércia.
Porém, apesar dos nudges[2], em média, terem realmente ajudado a reduzir os processos de decisão financeira por inércia, eles funcionaram de maneiras bem diferentes. O nudge de opção padrão (default) acabou enviesando a distribuição dos resultados em direção à inércia na tomada de decisão, o que pode ser compreendido como uma reação a algo percebido como ameaça ou restrição de liberdade, como também como resposta à influência e manipulação (comportamento conhecido na psicologia como relutância à persuasão), reduzindo a eficácia do nudge.
Assim, mesmos os resultados tendo mostrado que os robôs podem ajudar os investidores a superar seus vieses na hora de decidir, o melhor caminho parece ser a utilização de diferentes nudges e a realização de mais pesquisas sobre o tema.
[1] Dominik Jung é pesquisador do grupo Electronic Markets and User Behavior do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe (KIT) e do Karlsruhe Decision & Design Lab (KD2Lab) da Alemanha. [2] Nudges: “empurrãozinho”, em tradução livreFonte: CVM